O longa nacional Divaldo – O Mensageiro da Paz chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, dia 12 de setembro, e conta a história do médium baiano Divaldo Franco. Em exibição de pré-estreia em Salvador, o Coisa de Cinéfilo conversou com o diretor do filme, Clovis Mello, e com o ator que interpreta Divaldo na juventude, Ghilherme Lobo.
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Confira o bate-papo!
Vocês tiveram o cuidado de explicar a doutrina de maneira mais didática. Você acredita que o público espírita vai ter orgulho do roteiro do longa?
Clovis: Sim, com certeza. Uma coisa que me incomoda um pouco é que os palestrantes espíritas já estão naturalmente mais velhos, assim como seus frequentadores. E a maior preocupação que o Divaldo tem com os próximos acontecimentos da humanidade é que nos próximos anos a maior causa de morte será por suicídio, fruto especialmente da depressão. E isso atinge muito o público jovem. Então esse filme é para esse público.
Quando ele explica a doutrina espírita é muito mais no intuito de tirar o preconceito. Porque tem muitas pessoas que acreditam que o espírita não é cristão. E o espiritismo é, sim, uma doutrina cristã. Não é bruxaria nem nenhuma das histórias que as pessoas imaginam.
Como foi fazer o filme que traz a biografia de uma pessoa que está viva? Quais os desafios?
Clovis: É uma loucura! Divaldo me pediu, desde o começo, para não colocar o nome de ninguém, senão seria uma ciumeira danada (risos). É muito difícil. O amigo do Divaldo que é historiador, por exemplo, diria que tem detalhes que não são exatos na história. Eu preferi misturar vários personagens em um só para dar mais unidade e condensar a história, que é grande. Além disso, evita que as pessoas representadas se identifiquem tanto e possam vir a sentir ciúmes. (risos).
E você teve muito contato com o próprio Divaldo?
Clovis: Sim, sim. Tive muito contato até porque chega um momento que eu comecei a escrever por ele. Os próprios personagens vão falando por si só. Mas eu submeti a escrita ao Divaldo para que ele pudesse ver se estava tudo de acordo com a história e se eu estaria sendo crítico demais. Fiquei com medo de estar passando do ponto. E ele me disse: “Fica tranquilo que se tivesse alguma coisa errada, a Joanna já teria me dito” (risos).
Como foi para você interpretar o Divaldo?
Ghilherme: É muito legal pegar essa fase da juventude de Divaldo. Foi um momento da vida dele que é equivalente ao que eu estou vivendo agora, de 20 e poucos anos. Por mais que tenha a diferença de época e a influência da tecnologia atualmente – o que faz com que os conflitos possam chegar mais cedo, o jovem se desenvolver mais rápido ou não. Foi um encontro muito importante que eu tive com Divaldo. Tivemos a preparação para incorporar no personagem.
E eu acabei me questionando sobre o por quê de estar ali. Qual a importância, mesmo depois de fazer um trabalho que eu me orgulho muito, que é o Hoje Eu Quero Voltar Sozinho. Então esse filme veio para mim em um momento que me era proposto uma reflexão sobre tudo ao nosso redor. Sobre estar em constante evolução, entender que nem tudo é definitivo. E isso é muito importante para as pessoas da minha idade.
Foi fácil para mim acessar essa incerteza e insegurança de Divaldo na fase jovem porque eu vivo isso pessoalmente na minha vida. Como o roteiro estava muito bem trabalhado em sentido de inserção de humor e tudo o mais, foi muito tranquilo encontrar esse equilíbrio entre a experiência de Ghilherme e o Divaldo.
Vocês tiveram alguma experiência sobrenatural durante a gravação do filme?
Ghilherme: Não de ver, mas de ouvir, sim. De estar gravando uma cena e pedir para fazer silêncio e não tinha ninguém fazendo barulho.
Clovis: Nossa ideia era gravar em Salvador e Feira de Santana, apenas. Mas do ponto de vista histórico, alguns prédios estão bem conservados na parte de fora e bem acabados por dentro. Ou modificados com peças modernas. Então, gravamos algumas cenas em São Paulo numas residências histórias que eram de Seminário, com padres enterrados. E ali foi bem diferente a experiência. Teve uma cena que deixamos uma mesa preparada para o dia seguinte de gravação. Quando chegamos no outro dia, tinha uma poça de água em cima da mesa. Estava tudo molhado. E não tinha vazamento e nem nada que justificasse aquela água. Quando fomos no segundo andar, percebemos que exatamente em cima de onde estava a mesa, ficava o caixão do irmão de Divaldo, da cena do velório. Não sei se teve relação, mas que é esquisito, com certeza é. (risos)
Um detalhe bem forte no filme é a tentativa bem sucedida de humanizar Divaldo, tanto da parte da direção quanto da parte da atuação. De mostrar que mesmo com todo o seu lado espiritual evoluído e sua importância no cenário, ele continua sendo um ser humano comum. Foi um cuidado que você teve na produção?
Clovis: Sim, com certeza. Imagina um cara de 22 anos com todo aquele discurso espírita. Quem é esse garoto para me dizer alguma coisa? O que esse cara viveu para me falar tudo isso? Então foi uma escolha tirar esse discurso mais doutrinário da boca de Divaldo e colocar nos espíritos. Foi uma decisão consciente. E eu vejo isso no Divaldo pessoalmente. Ele evoluiu demais, mas continua ser humano. Ele procura manter a discrição, o controle do ego, a vaidade. Ele domina muito bem o orgulho, para que isso não venha a atrapalhar o trabalho dele. Ele acessa constantemente a humildade.