Crítica: Legalidade

O gatilho para a trama de Legalidade, longa de Zeca Brito (Em 97 Era Assim), é o movimento liderado pelo governador do Rio Grande do Sul Leonel Brizola de resistência ao golpe militar de 1964 no Brasil. No longa, essa conhecida figura do cenário político nacional é interpretada por Leonardo Machado (Teu Mundo Não Cabe nos Meus Olhos), ator que sequer viu o seu trabalho na tela pois faleceu no ano passado. No entanto, o chamariz da produção acaba sendo outro, a jornalista Cecília Ruiz interpretada por Cleo (Mais Forte Que o Mundo).

Legalidade traz a história de amor entre a correspondente do Washington Post no Brasil e um antropólogo vivido por Fernando Alves Pinto (A Vida Secreta dos Casais) em meio a esse movimento político pré-1964, quando sua história vem à tona graças a uma investigação empreendida pela filha dela, papel de Letícia Sabatella (Querida Mamãe). No fim, acaba sendo um romance inspiracional para o Brizola ou as ações dessa figura pública acabam mobilizando o casal, o certo é que Legalidade não vem a ser precisamente uma biografia histórica apesar de aparentar.

A questão é que o filme tem um ar pomposo, construindo uma atmosfera solene e calculadamente artificial ou excessivamente estetizada. Absolutamente tudo em Legalidade tem que soar como um grande ato, fazendo com que uma figura como Brizola pareça estar em cima de um palanque mesmo quando tem a discussão mais banal com a esposa. Em meio a registros históricos da época e uma trama moldada a partir de trivias enciclopédicas, a produção abraça o folhetinesco no romance entre os personagens de Cleo e Alves Pinto, explorando sobretudo o corpo da atriz, cuja personagem parece existir para estar à serviço de transformações em seus colegas do sexo oposto e nunca para assumir sua própria voz na narrativa (por isso soa tão estranho quando lá pelas tantas o espírito revolucionário da personagem é citado como uma inspiração).

Com diálogos robotizados, Legalidade parece um daqueles exemplares do cinema histórico da retomada. Poeril, rocambolesco e canastricimamente melodramático, o filme convoca a resistência diante das investidas truculentas da antidemocracia, o problema é a roupagem que utiliza para fazer isso. O longa é cafona, apela para um óbvio nacionalismo, que inclui até mesmo o hino como parte da sua trilha, e não parece ser muito afeito a sutilezas de uma maneira geral.

Direção: Zeca Brito
Elenco: Cleo, Fernando Alves Pinto, Letícia Sabatella, Leonardo Machado, José Henrique Ligabue

Assista ao trailer!