Crítica: Divaldo – O Mensageiro da Paz

O cinema nacional tem uma vertente religiosa forte, uma característica que faz sentido, já que o país tem grande sincretismo e a fé como elemento central em diversos debates. No âmbito do espiritismo, já vivenciamos algumas experiências como Nosso Lar (2010), Chico Xavier (2010) e Bezerra de Menezes – O Diário de um Espírito (2008). Agora é a vez de Divaldo Franco, um médium baiano que ainda está vivo, ser representado nas telonas.

Tido como o maior doutrinador espírita da atualidade, Divaldo tem diversas obras sociais, como a Mansão do Caminho, que acolhe crianças carentes, tem centro de estudo e é uma referência em parto humanizado no Estado. O filme busca contar a história dele, como pessoa e como representante da causa espírita.

Um dos grandes problemas de diversos filmes de cunho religioso é a tendência ao enaltecimento exacerbado da figura ali representada ou até mesmo da religião em questão. Os roteiros tendem a colocar tudo no mundo do fantástico, afastando o espectador do conteúdo e aproximando apenas aqueles que já possuem alguma identificação com o tema.

Divaldo – O Mensageiro da Paz tem o cuidado de falar sobre a história do médium, mas de maneira humanizada. Ele é retratado de forma crua e verdadeira, sem flores desnecessárias e sem ocultar suas fragilidades. É posto em foco, por exemplo, a sua dificuldade em lidar com a fama e a tendência a ceder aos caprichos do ego. Uma batalha que ele travou a vida inteira para conseguir aprender.

O roteiro divide a história em três momentos principais: a infância, juventude e fase adulta. Todas as descobertas de Divaldo, desde as visões de quando era criança até a sua consagração como médium importante no cenário nacional, são expressadas em tela. O diretor Clovis Mello, mais conhecido pelos trabalhos em propaganda e marketing, conseguiu dar uma fluidez na história, que atrai a maioria dos espectadores.

Enquanto tenta descobrir quem é o espírito de luz que se mostra para ele desde pequeno, Divaldo tem que lidar com as influências de um obsessor. Marcos Veras (O Filho Eterno) interpreta o personagem e é importante para explicar ainda mais a doutrina espírita. O filme acaba sendo muito mais sobre o espiritismo do que sobre a figura de Divaldo.

A escolha de elenco também foi acertada, trazendo ótimos nomes como Laila Garin (Sob Pressão) na pele da mãe do médium e Ghilherme Lobo (Hoje Eu Quero Voltar Sozinho), que vive Divaldo na fase jovem. Bruno Garcia (Sob Pressão) tem breve aparição no terceiro ato e consegue fazer a transição de personagens com muita fluidez.

Pincelado com risos, o filme mostra ainda mais da personalidade brincalhona de Divaldo, fato conhecido dos seguidores da crença espírita. O filme o coloca, em especial, como humano em constante aprendizado. E mesmo quando mostra seus dons, é de forma realista e sem exageros.

Divaldo – O Mensageiro da Paz é um filme correto e uma grata surpresa em um mar de longas religiosos que estão mais preocupados em catequizar o espectador do que efetivamente falar sobre a fé. Vale a atenção, especialmente dos baianos que vão se identificar ainda mais com a história.

Direção: Clovis Mello
Elenco: Bruno Garcia, Regiane Alves, Ghilherme Lobo, Laila Garin, Marcos Veras, Caco Monteiro, Ana Cecília Costa, Bruno Suzano

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