Depois dos sucessos de Turma da Mônica: Laços (2019) e Turma da Mônica: Lições (2021), chega aos cinemas Turma da Mônica Jovem: Reflexos do medo. No entanto, apesar de ser uma adaptação do mesmo universo de personagens dos quadrinhos de Maurício de Souza, neste novo longa-metragem tudo mudou: o elenco, a direção e até mesmo a empresa produtora. Este fato é relevantíssimo, porque já barra o espectador de criar alguma expectativa de encontrar a mesma qualidade dos live actions anteriores.
No entanto, ainda que o público consiga evitar comparações, a decepção será alta. Reflexos do Medo é um grande imbróglio, com uma direção totalmente desconectada do que a narrativa precisa, um elenco fraco, uma pós-produção equivocada e um roteiro óbvio e preguiçoso. O cineasta Maurício Eça (Carrossel: O Filme) traz uma decupagem problemática em dois aspectos. O primeiro é que fica difícil se conectar com a turma como um grupo, quando os planos mais fechados são constantemente privilegiados.
Desta maneira, quem assiste vê mais uma ou duas personagens em cena, quebrando a ideia de coletivo da TURMA da Mônica. O segundo fator é o uso exagerado do establishment shot. Ok, é um longa para consumidores jovens, mas estamos falando de cinema aqui. O uso do plano de estabelecimento é recorrente na televisão e serve para localizar o espectador, que pode ter seu olhar dividido com as atividades de casa e ficar perdido com a história que está vendo na TV. No cinema a lógica é outra, porém o uso dele no cinema não é um crime. Mas, nesta obra, a utilização do recurso beira ao ridículo, com quadros longos de fachadas de prédios e locais públicos.
Além de não servir para a construção de sentido narrativo, subestima o público. Se o tempo de tela que Eça usa para establishment shots fosse revertido para as cenas de suspense, o filme já cresceria. Porque ainda existe este elemento que incomoda e interfere na fruição, que é uma pressa para mostrar as coisas, porém não são elementos qualitativos e sim quantitativos: mais frames, porém frames de sentidos esvaziados. Esta é uma das escolhas que atrapalham a elaboração de suspensão. Mas, há também a falsa ideia de ritmo, que é empregada desde os primeiros minutos de projeção.
Pela milésima vez, preciso escrever isso em uma crítica: velocidade não é ritmo! Desde o princípio, as músicas e os cortes secos querem criar um clima de mistério. Todavia, a relação que a plateia precisava estabelecer com as personagens não tinha sido construída ainda. Por isso, que, sem respiros, a pessoa pode se sentir tragada para um universo que lhe é alheio e, por consequência, desinteressante. Neste sentido, o roteiro também não ajuda a salvar nenhum tipo de ação errônea que tenha sido feita no set ou na pós-produção.
a realidade, com um roteiro com tantas obviedades, sem trabalhar complexidades de personagens, retirando a personalidade das figuras ficcionais e exagerando somente em arquétipos, seria quase impossível transformar a produção em um bom longa. Provavelmente, com uma equipe mais talentosa, talvez fosse realizável uma obra razoável e/ou minimamente divertida. O que não é o caso aqui, porque até mesmo o elenco não tem força para enganchar a atenção. O quinteto principal é composto quase todo por atores artificiais, sem organicidade, que deixa a sensação de que se está vendo uma peça (fraca) do sexto ano do ensino fundamental.
O único ator que se salva é Theo Salomão (O Escaravelho do Diabo), que faz o Cascão. O jovem consegue operar milagres com um texto tão mal escrito, deixando ele fluido, principalmente nas sequências que Theo fala sobre seu tio e o vilão Cabeça de Balde. O colorido que ele dá para suas falas revela os seus sentimentos em relação ao seu tio e ao desaparecimento dele. O mesmo não pode ser dito Mateus Solano (Benzinho), que dá a vida a Licurgo. A atuação dele deixa vergonha alheia em quem acompanha a projeção. Caricato, o intérprete entrega uma composição monocórdica e sem nenhuma gradação.
Com todos estes erros, Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo deve ser evitado. É triste ter que dizer isso sobre uma produção brasileira, mas é que o grau de falta de qualidade é tão exacerbado, que dá pena de quem vá consumidor este produto sem estar avisado do que lhe espera. No mais, existem muitas produções nacionais excelentes, que estão esperando o público do Brasil para consumi-las. 2023 foi um ano com ótimas realizações (Nosso Sonho, Tia Virgínia, Retratos Fantasmas, Incompatível com a vida etc).
Não deixem de ir ao cinema, consumir e privilegiar a arte do seu país, mas também existem limites para tudo. Agora, é apenas esperar que os próximos lançamentos envolvendo a turma da Mônica sejam relevantes e boas como muitas outras do passado, para que não percam a atenção do público e continuem a movimentar a economia e a cultura nacional.
Direção: Mauricio Eça
Elenco: Sophia Valverde, Carol Roberto, Xande Valois
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