Oxigênio

Crítica: Oxigênio (Netflix)

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Um labirinto no qual a saída parece impossível. Na abertura de Oxigênio, o espectador pode logo entender que encontrará na narrativa a revelação de caminhos tortuosos, difíceis de se escapar. E ele não estará equivocado. Em 1h40 de projeção, o público acompanha o sufocamento e a clausura da protagonista, Liz (Mélanie Laurent, Bastardos Inglórios), ao se deparar presa dentro de uma câmara criogênica. Sem memória de sua vida pregressa, ela tenta escapar incessantemente daquele espaço apertado. É curioso observar as estratégias da direção e da fotografia para evocar sensações e pensamentos angustiantes em quem assiste.

A começar pela própria ideia de aprisionamento duplo, sendo o segundo pior que o primeiro. Quando o filme começa, acompanha-se Liz saindo de uma espécie de casulo, procurando respirar. A vontade imediata é a de que ela consiga fugir o mais rápido possível. No entanto, o que o roteiro entrega é, justamente, o oposto. Entre planos fechados e cores que oscilam entre o azul piscina e o vermelho, a progressão cresce acelerada, trazendo toda a angústia da personagem principal à tona e aumentando as suas expressões e ações corporais. Os tons vêm como alertas e relaxamentos constantes, lembrando que há a iminência de perigo, dividida entre a esperança de fuga.

Esta dinâmica se junta à respiração crescente de Laurent e seus movimentos corporais bruscos, ao lado de quadros fixos e fechados. Assim é construída a atmosfera ideal para este tipo de produção. Estes reforços de foco para esta situação de pânico são fomentados com pistas úteis para a personagem e para quem acompanha a sua aventura mórbida. Até a metade do longa-metragem estas dicas sobre a resolução do mistério da presença de Liz na câmara funcionam e impulsionam a qualidade do roteiro de Oxigênio.

No entanto, estes recursos – como as aparições de ratos de laboratório ou as ligações do policial – se tornam tão repetitivos que deixam de ser um toque sutil e passam a deixar a trama e seu desfecho cada vez mais óbvio. Após a entrada do segundo ato, os elementos que antes pareciam ser um caminho para o alcance de um ápice, até seu desenlace, ficam esgarçados, quebrando a sua velocidade e afetando o ritmo da obra como um todo. O que acontece aqui são idas e vindas desnecessárias.

Oxigênio

Talvez, se os diálogos dos telefonemas de Liz ocorressem de forma mais direta, fosse menos cansativo vê-la perceber o que já fica nítido bem antes do final do longa. Um investimento que, provavelmente, funcionaria seria o de deixar os poucos coadjuvantes que existem ali menos rasos. Até mesmo a Liz não apresenta tanta subjetividade. Desta maneira, a produção consegue se fazer efetiva em partes, mas não sustenta a sua própria criação de universo ficcional, seja por colocar contextos pouco explorados – como no caso do colapso mundial que porá fim a humanidade na Terra –,na presença desta corporação que não aparece muito definida em suas intenções ou em Liz e em quem a cerca naquele cenário aterrorizante.

Há, porém, um esforço visível em utilizar a técnica à favor da criação de suspensão. Alexandre Aja (Alta Tensão), que possui uma carreira no gênero terror, chega em Oxigênio mais habilidoso. Desde o seu honesto Predadores Assassinos (2019), o cineasta parece buscar focar com mais intensidade na figura humana do que no que lhes acomete. Seja na precisão na escolha de quando movimentar a sua câmera, como na decupagem no geral, Aja vem numa fase um pouco mais econômica e esta característica tem elevado a potencialidade de sua direção, pois há um equilíbrio maior agora entre os momentos de tensão e relaxamento colocados na tela.

Além disso, um outro ponto destacável em Oxigênio é a interpretação de Laurent, que apresenta dignidade. É notável a sua consciência em imprimir as descobertas e medos de Liz gradativamente. O seu trabalho de corpo também impressiona. Com poucas possibilidades de locomoção e com a tarefa de transmitir a sua atuação, quase completamente, com o rosto, ela não deixa de criar nuances para cada momento distinto de Liz dentro da câmara, tão pouco realiza uma tônica única de pânico. Existem distinções em suas partituras faciais e nas tonalidades vocais, fazendo com  que diversas cartelas de pavor sejam expressadas.

Direção: Alexandre Aja

Elenco: Mélanie Laurent, Mathieu Amalric, Malik Zidi 

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