Novas produções de estúdios como Walt Disney, Warner Brothers, Universal e Paramount têm destinado sua atenção para o sentimento de nostalgia. Essa é a palavra de ordem dos últimos anos nos principais longas-metragens que chegam aos cinemas. Quando o assunto é franquia, as grandes empresas hollywoodianas mergulham ainda mais fundo nesse mote e apostam suas fichas – de forma cega, algumas vezes – em produções nostálgicas. A decisão pode resultar em desastres financeiros, como vimos com a franquia Animais Fantásticos (2016-2022) ou no recente Transformers: O Despertar das Feras (2023) . No entanto, existem inúmeros casos que, mesmo sem qualidade, a bilheteria rende, o que faz com que a produção em massa continue, como a mirabolante franquia Velozes e Furiosos.
Existem, contudo, raras ocasiões nas quais a qualidade narrativa e de produção dialogam com o retorno financeiro. São os momentos em que o público ganha uma nova história para se orgulhar. Esse é o caso de Indiana Jones e a Relíquia do Destino. A nova história do arqueólogo mais querido do cinema supera os deslizes de seu antecessor e retoma a nostalgia das aventuras dos anos 1980 e 1990. O longa é capaz de gerar a experiência sensorial de uma boa aventura da Sessão da Tarde vista pela primeira vez. O quinto projeto estrelado por Indy é daqueles que vai mover legiões para as salas de cinema e arrepiar a todos quando a música tema começar a tocar. O filme estreia no Brasil nesta quinta-feira (29).
Recém aposentado da universidade e há anos sem se aventurar numa missão arqueológica, Indiana Jones (Harrison Ford) é retirado à força do seu descanso quando sua afilhada, Helena Shaw (Phoebe Waller-Bridge), busca ajuda. A nova empreitada é em volta de um artefato criado por Arquimedes cujos poderes são desconhecidos, mas possivelmente catastróficos. Ao embarcar na jornada, Indy se vê confrontado um inimigo do passado, o físico nazista Dr. Voller (Mads Mikkelsen). Na corrida para deter o plano nefasto do cientista, Helena e Jones precisam reconciliar sua relação na tentativa de desvendar as pistas milenares deixadas por Arquimedes.
Depois da desastrosa recepção do quarto capítulo da franquia, a postergação do deste último projeto e recentes falhas do estúdio, descobrir que Indiana Jones e a Relíquia do Destino é um ponto fora da curva foi uma vitória para o público. Ainda que não tenha mesma delicadeza dos antecessores dirigidos por Steve Spielberg (Jogador Nº 1, de 2018, e Os Fabelmans, de 2022) ou que não tenha o dedo de George Lucas no roteiro, o resultado surpreendentemente positivo vem como um grato presente aos fãs. A sacada que faz esse roteiro dar certo é o tom sóbrio, apesar da excitação com o retorno de Indy às telonas. Existe algo papável no caminho que a vida do personagem tomou e esse é o maior mérito dos roteiristas Jez Butterworth (007 Contra Spectre, de 2015), John-Henry Butterworth (Ford vs Ferrari, de 2019), David Koepp (A Múmia, de 2017) e James Mangold (Logan, de 2017).
Apesar da ausência de Lucas e Spielberg, Mangold conduz a história com cuidado de quem é fã. Existe um quê spielberguiano nas escolhas das sequências. Mesmo que essas escolhas não tenham sido inocentes e sim um cálculo de produção, o resultado narrativo de Indiana Jones e a Relíquia do Destino funciona. A construção da história é mais robusta e infinitamente mais interessante do que Indiana Jones e a Caveira de Cristal (2008). Desta vez, a produção soube como amarrar o roteiro e dei conta do tempo de distância entre os filmes. Além disso, o longa ainda é capaz de usar o pano de fundo histórico ao seu favor, como fizeram nos três primeiros filmes da franquia. Tudo isso, com uma aventura que cativa o espectador e o anima durante suas 2h30 de duração.
Indiana Jones e a Relíquia do Destino corre poucos riscos, apesar do excesso de cenas com um CGI de qualidade duvidosa para rejuvenescer os personagens de Harrison Ford (Blade Runner 2049, de 2017) e Mads Mikkelsen (Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore, de 2022). Tirando esse feito sofrível, o restante da produção se sai bem. O retorno de John Williams na trilha, por exemplo, é um presente aos fãs. Da mesma forma que as performances – em especial do elenco já conhecido pelos fãs -, são o ponto alto da produção. A dinâmica entre Indy e Helena merece um olhar mais atento. A troca em cena entre Ford e Phoebe Waller-Bridge (007 – Sem Tempo Para Morrer, de 2021) torna cada momento ainda mais interessante. Além da dupla, a participação do jovem Ethann Isidore também é uma grata surpresa. E, como já visto em outros projetos, a poderosa presença vilanesca de Mikkelsen é um show à parte.
É compreensível que o lado fã das pessoas questione a produção, mas isso deve mudar para a maioria uma vez que elas sentem nas poltronas dos cinemas e vejam essa emocionante aventura. Não há nada de mais interessante do que a pura experiência de diversão durante uma sessão, em especial quando o assunto é filme de ação. Indiana Jones e a Relíquia do Destino é, portanto, um prato cheio para todos e todas que se permitirem apreciar essa história cuidadosa. Não é o melhor filme da franquia e nem o mais mirabolante, mas o longa cumpre a sua missão de limpar os erros do passado e focar no futuro – que é esse aguardado adeus.
Com a estreia do quinto e último capítulo da franquia, a verdadeira despedida de Harrison Ford de um dos principais papéis da sua carreira chegou ao seu momento conclusivo. Com uma produção digna de um adeus a uma das maiores narrativas de aventura do cinema mundial, Indiana Jones e a Relíquia do Destino encerra o legado de Indy de forma triunfal e emocionante. A aposta na nostalgia foi efetiva dessa vez e o resultado será observado na bilheteria que deve vir batendo recordes. Além disso, a experiência de escutar a música tema nos cinemas uma última vez vai arrepiar o público. Se você ama a franquia ou quer curtir uma boa história com emoção, risadas e muita ação, o lançamento da semana é a escolha perfeita para você.
Direção: James Mangold
Elenco: Harrison Ford, Phoebe Waller-Bridge, Antonio Banderas, John Rhys-Davies, Toby Jones, Boyd Holbrook, Ethann Isidore e Mads Mikkelsen
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