Indecente

Crítica: Indecente (Netflix)

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Baseado no livro Brazen Virtue, de Nora Roberts, Indecente chega ao catálogo da Netflix. Com Monika Mitchell (Uma Babá em Minha Vida) na direção, experiente em comédias românticas do Lifetime e séries de TV policiais, neste filme há uma fusão de elementos destes dois mundos. Procurando evocar uma linguagem dos dois formatos de audiovisual, em partes, este estilo chega a funcionar no primeiro ato do filme, criando empatia com as personagens e estabelecendo a atmosfera da narrativa sem pressa.

No entanto, a decupagem de Monika, juntamente com a montagem de Christopher A. Smith (De Novo Natal?) acabam deixando uma impressão estranha de quebra rítmica. Talvez pelo fato da dupla vir da televisão tradicional, eles tenham o costume de pensar as produções com intervalos comerciais. Todavia, ao invés de aumentar a tensão que vem destes pequenos cliffhangers antes das propagandas na TV, aqui, a suspensão vai se diluindo e o longa-metragem ficando entediante.

Além disso, para um longa de mistério e crime, falta criação de suspensão através de planos e movimentações de câmera. Para completar, o roteiro também não ajuda muito o restante da equipe. O enredo de Indecente é óbvio, o que deixa a sessão ainda mais cansativa. Os diálogos simplórios também fomentam a má qualidade do texto, contendo não apenas exposição, mas frases de efeito – que não causam nenhum efeito, por serem bobas.

Indecente

Ainda é possível encontrar extensos discursos, que poderiam ser cortados para elevar a organicidade da condução da trama e rodeios para levar a uma conclusão simples, já perceptível antes da metade da projeção. Com todo este conteúdo difícil de aguentar, a cereja do bolo são as músicas incidentais pouco criativas, repetitivas e que contribuem mais para a quebra a tensão do que para o estabelecimento dela.

Dentro deste contexto, a única salvação é a atuação de Alyssa Milano (Charmed), que surpreende por conseguir criar uma personagem sólida e com camadas, apesar de sua Grace não ter sido tão bem escrita assim. Milano imprime uma mistura de força com fragilidade, que faz com que a exibição seja minimamente tolerável. É perceptível que seu papel foi estudado e trabalhado com esmero, pois é notável que há ali uma consciência das motivações de Grace, seus sentimentos e percepções sobre o que a cerca.

Até a sua relação com o novo paquera, o policial Ed (Sam Page), fica crível, apesar da velocidade na qual eles criam intimidade. Assim, Indecente não é recomendável, a não ser que o espectador seja fã de Charmed e queira matar a saudade de ver Alyssa atuando, agora em algo da Netflix.

Direção: Monika Mitchell

Elenco: Alyssa Milano, Sam Page, Emilie Ullerup

Assista ao trailer!