Fuja

Crítica: Fuja

Crítica: Fuja
3.5

Nova produção lançada pela Hulu e estrelada por Sarah Paulson (Oito Mulheres e um Segredo) Fuja é um thriller/terror de tirar o fôlego! Com uma destreza em criar uma progressão dentro da narrativa, Aneesh Chaganty (Monsters) e Sev Ohanian (Buscando…) demonstram cuidado em revelar, lentamente, as ações tenebrosas de Diane Sherman (Paulson). O espectador primeiro é ambientado naquela rotina, aparentemente, tranquila de Diane e sua filha, Chloe (Kiera Allen).

Logo no início, é anunciado que Sherman deu a luz a um bebê que nasceu prematuro e com complicações. Em seguida, vê-se a rotina de Chloe, uma adolescente que, teoricamente, tem diversas questões de saúde, como asma e diabetes, além de ser pessoa com deficiência e possuir um espaço todo adaptado, por conta disto. Ela vive em uma rotina regrada, consumindo muitas medicações. Passado, majoritariamente, na casa das duas, o ambiente começa com uma iluminação e elementos de cena mais sutis, com tons terrosos e amarelados. Estas cores também aparecem em Diane e Chloe, que estão sempre combinando as paletas em suas vestes.

A harmonia da dupla vai sendo quebrada em Fuja, à medida em a jovem vai descobrindo quem é sua mãe de verdade. Além disso, o local passa a se transformar em um ambiente claustrofóbico, imprimindo a noção de que é muito mais do que uma residência comum e sim uma prisão. Isto é feito através da direção de Chaganty, que traz planos que vão se fechando e em panorâmicas que acompanham os passos de Paulson, evocando esta ideia de que ela está sempre rondando a filha. As movimentações de câmera trabalham em função desta construção de atmosfera sufocante e apavorante. Diane, por exemplo, é posta ao fundo da tela, em algumas ocasiões, para elevar esta sua imagem de stalker.

As atuações de Sarah Paulson e Kiera Allen também são fundamentais para o estabelecimento de tensão e da construção desta relação tão intensa. Isto porque boa parte do filme se faz na relação entre Diane e Chloe, na confiança previamente adquirida e, agora, quebrada. Neste contexto, Sarah encontra um papel que se encaixa perfeitamente com sua habilidade de demonstrar múltiplas emoções em poucos segundos. As suas expressões faciais são arquitetadas para imprimir esta figura manipuladora, que finge ser outra, mas que se transfigura em uma mulher assustadora, de repente.

Fuja

Já Kiera, surpreende por este ser seu primeiro trabalho em um longa-metragem. Ela carrega consigo uma forte consciência espacial, sabendo como se movimentar em cena. Allen também demonstra compreender as motivações de Chloe e isto se traduz em suas intenções de texto. Mas, o ponto mais forte está na contracena dela com Paulson. Ambas jogam de maneira certeira em Fuja e elevam as propostas uma da outra. O ápice disto é a sequência do porão, na qual as nuances de entonação, olhares e gestos se tornam mais complexos, principalmente pelas escolhas de velocidade das palavras, respirações e silêncios.

No entanto, apesar de ter bastantes elementos positivos durante quase toda projeção, do início terceiro ato da produção em diante, a qualidade da obra vai caindo. Talvez, fosse necessário existir um pouco mais do que 90 minutos de duração para que o arco do relacionamento das duas fosse concluído. Algumas informações que são colocadas, a partir do confronto delas, acabam ficando soltas e sem conclusão, como o fato de Chloe ter pais biológicos que a perderam ainda na maternidade.

A solução não precisaria ser necessariamente encaminhada para este rumo, porém os desenlaces chegam fáceis e desfazem a riqueza da sutileza da progressão ali presente.  Outro fator incômodo é a cena final. A troca de posição entre Diane e Chloe parece mais algo que busca acrescentar outra camada para a dinâmica entre elas. No entanto, esta sequência acaba reduzindo o impactado da conclusão do conflito.

Apesar destas falhas, Fuja é um material coeso, em grande parte. Com méritos de roteiro, atuações e direção, vale a pena conferi-lo. Além de tudo isso, é importante destacar a escolha da protagonista, feita por Aneesh Chaganty. Kiera Allen deixa a sensação de um futuro promissor na área, demonstrando como os cineastas e Hollywood podem ser menos capacitistas e contratarem pessoas com deficiência para ocuparem diversas funções no set. Com certeza, muitos talentos estão por aí!

Direção: Aneesh Chaganty

Elenco: Sarah Paulson, Kiera Allen, Onalee Ames, Pat Healy, Carter Heintz, Erik Athavale

Assista ao trailer!

Pin It on Pinterest