Escrevendo com Fogo

Crítica: Escrevendo com Fogo

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Indicado ao Oscar deste ano, na categoria melhor documentário, Escrevendo com Fogo é um clássico de história boa, porém mal conduzida. Disponível nas plataformas Claro Now, iTunes/Apple, Google/YouTube e Vivo Play, há de mais forte no documentário uma potência em suas personagens centrais. O foco principal é um grupo de mulheres indianas, da casta Dalit, que trabalham com jornalistas no Khabar Lahariy , veículo que, após 20 anos circulando como um impresso, se insere no ambiente digital.

Aqui, o que há de mais instigante é acompanhar a rotina e a luta destas figuras. A partir de um estudo contínuo e da passagem de conhecimento para suas iguais, elas se inserem em uma profissão dominada por homens de classes mais altas. Neste sentido, o longa-metragem tem uma relevância profunda: a de mostrar toda a situação vivenciada pela imprensa na Índia. Há bastante repressão, silenciamento e assassinatos da mídia no país. Este fator é transmitido com nitidez, porém roteiro, direção e montagem falham em segurar o espectador durante a projeção.

O abuso de cartelas informativas atrapalha a fruição do público, porque corta a organicidade da narrativa, retiram quem assiste da história e revela uma ausência de criatividade para passar o seu conteúdo. Nestas quebras de dinâmica, algumas idas e vindas temáticas fomentam esta fraqueza do ritmo dentro da obra. Ainda que o assunto geral seja o mesmo, o fio condutor de cada debate acaba por ficar entrelaçado demasiadamente.

As emoções das personagens, juntamente com os fatos vivenciados por elas têm o impacto reduzido e a sensação de que as sequências estão se alongando e são repetitivas é recorrente. Além disso, alguns elementos técnicos são um tanto falhos. É possível perceber como a produção não conta com certas noções de enquadramento, eixo e iluminação. De maneira geral, características como essas podem ser deixadas de lado pelo fato do enredo ser poderoso e necessário.

Escrevendo com Fogo

Todavia, neste contexto de Escrevendo com Fogo a falta de apuro mínimo em alguns momentos compromete sua totalidade. É compreensível que haja uma tremida na imagem ou que as condições de luz não sejam as melhores em instantes de denúncia e de investigação criminal. Contudo, quando o longa foca nas jornalistas do Khabar estas questões se tornam um problema.

Se a história é colocada de maneira quase confusa, com um roteiro que parece disperso, não há criatividade em sua linguagem e equívocos básicos acontecem, o resultado final não tem como não ser comprometido. De todo modo, existe uma relevância neste doc, não apenas pelo o que ele conta, mas também por ser primeiro filme feito na Índia a ser indicado ao Oscar. Assim, o que ele deixa é uma esperança de um futuro promissor para os diretores Rintu Thomas (Dilli) e Sushmit Ghosh (Timbaktu) e todo um cinema indiano.

Que a partir desta aparição na categoria da Academia, toda a potência de suas existências possa ser mostrada para o mundo inteiro e que seja com toda a alma artística e a sensibilidade que trajetórias como as do Khabar Lahariya merecem.

Direção: Rintu Thomas e Sushmit Ghosh

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