O Projeto Adam

Crítica: O Projeto Adam (Netflix)

2.5

Shawn Levy é um cineasta que sabe equilibrar o tom de aventura/ação com comédia em sua filmografia. Vindo de títulos como o recente Free Guy: Assumindo o Controle (2021) ou Uma Noite Fora de Série (2010) e Uma Noite no Museu (2006), o foco da sua direção parece ser sempre o de conduzir a mescla de tensão e relaxamento, misturado com certa dose de constrangimento para as personagens. Neste contexto, Levy entrega produções esquecíveis, mas divertidas e leves.

Esta é a realidade de O Projeto Adam, nova estreia da Netflix, que fala sobre o encontro de dois Adams. Um é aquele vindo de 2050, que procura salvar a sua esposa, Laura (Zoe Saldaña). O outro é a sua versão de doze anos de idade, em 2022, que acabou de perder o seu pai, Loui (Mark Ruffalo), em um acidente. Sim, este é um longa-metragem que trata sobre viagem no tempo. Mas, o mais curioso aqui é notar como, mesmo inserido neste universo de ficção científica, ação e piadas, a história também confere espaço para explorar as relações entre suas personagens.

São muitas informações convocadas aqui, de fato, e muitas delas acabam se perdendo dentro da narrativa.  No entanto, as figuras ali investigadas são realmente trabalhadas e ganham certa complexidade. Até mesmo Maya, vilã caricata, feita por Catherine Keener (Corra!), tem nuances, porque a sua versão de 2022 todo o escrúpulo perdido em 2050. Desta maneira, através deste olhar para suas personagens, há todo um processo de identificação construído no enredo, que pode aproximar o espectador.

Neste sentido, as performances do elenco fomentam esta sensação. Este é um grupo coeso, que joga em cena e traz um dinamismo para o texto. Os diálogos ligeiros, porém preenchidos de afeto ou comicidade, são organizados para amortecer a quantidade de elementos científicos presentes no restante das falas. A sintonia entre os intérpretes cresce mais ainda na parceria entre Ryan Reynolds (Deadpool) e Walker Scobell, ambos no papel de Adam. O artista mirim impressiona por reter em sua construção trejeitos, velocidades e lógicas que habitam a interpretação de Ryan.

O Projeto Adam

Assim, há uma unidade na elaboração de Adam, independentemente da época. Ao mesmo tempo, a dupla consegue, separadamente, criar aspectos singulares, que revelam as marcas de cada período, seja na ingenuidade e sensibilidade do Adam de 2022 ou na agilidade física e senso de justiça do Adam de 2050. Estas características aqui elencadas são uma espécie de surpresa durante a sessão. Isto porque, ainda que este seja um material aparentemente despretensioso e até genérico, em alguma medida, existe um cuidado em como são tratadas as personagens dentro da trama.

Este olhar para elas é um dos pontos altos de O Projeto Adam, porque este zelo estabelece uma empatia e aumenta a conexão do espectador com o longa. No entanto, é preciso explicar que, no geral, não há nada de profundo ou complexo dentro da história. As saídas para o desenlace e os encaminhamentos narrativos são bastante óbvios. Além disso, a ação não se sustenta completamente. Tanto a decupagem quanto as coreografia das cenas de embates e lutas são bem semelhantes em seus arcos internos.

Por isso, elas soam repetitivas e vão se tornando cansativas todas as vezes que aparecem. Por esta razão, o cerne da questão é muito mais acompanhar as dinâmicas dos Adam, sua família e inimigos, do que todo o restante. Ainda assim, é notável a tentativa de introdução de uma mitologia deste mundo distópico futurístico, mesmo que a história se passe majoritariamente em 2022. Desta forma, O Projeto Adam não tem lá grandes pretensões e é um produto efêmero. Todavia, Shawn Levy e sua equipe garantem um resultado leve e divertido. Talvez, uma projeção de final de sábado, para assistir com amigues ou filhes, comendo pizza seja a melhor opção de consumo.

Direção: Shawn Levy

Elenco: Ryan Reynolds, Walker Scobell, Catherine Keener, Jennifer Garner, Mark Ruffalo, Zoe Saldana

Assista ao trailer!