Ela Disse

Crítica: Ela Disse

Chegou aos cinemas nesta quinta-feira, 8 de dezembro, o longa Ela Disse, que conta a história da investigação jornalística que resultou no escândalo de crimes sexuais praticados pelo produtor Harvey Weinstein, ao longo de décadas de trabalho. Acompanhamos aqui duas jornalistas do New York Times que tiveram a coragem de mexer onde ninguém mais queria se infiltrar, por medo de ameaças e retaliações.

O fato de sabermos o desfecho da história não a faz menos interessante de acompanhar. A diretora Maria Schrader (O Homem Ideal) consegue trilhar um caminho que mantém o espectador focado a todo momento, criando expectativa sobre quais os próximos passos que as personagens reais vão dar.

Além disso, ela adotou estratégias que muito me agradam no quesito apresentação de personagens. Diferente do que estamos acostumados, onde a mulher que é extremamente focada no trabalho normalmente é punida na vida afetiva e familiar, aqui temos protagonistas que lidam com os dois lados da moeda de maneira mais natural. Ambas lidam com suas próprias vidas particulares, sem deixar o trabalho de lado e contando com o apoio de seus maridos e filhos. Considero isso particularmente incrível, pois mostra que a mulher não precisa sofrer as consequências da escolha de uma carreira de poder e influência. Ela pode, sim, ser tudo o que quiser.

Dito isso, humanizar aquelas mulheres é fazer com que nos envolvamos ainda mais com as suas narrativas. Elas defendem com unhas e dentes aquela inicial possibilidade de história, pois acreditam que podem mudar o curso de uma sociedade doentia que privilegia os abusadores e vira as costas para as vítimas. É algo, inclusive, que fica bem claro em Ela Disse. Por mais que Harvey Weinstein seja um predador sexual, o sistema que o envolve é tão culpado quanto, ao criar circunstâncias para que ele continue se portando desta forma, sem sofrer as consequências.

Ela Disse

Quando Jodi Kantor (Zoe Kazan, Doentes de Amor) e Megan Twohey (Carey Mulligan, Bela Vingança) começam a investigar e entendem toda a teia de dezenas de mulheres que estão envolvidas, percebem o quanto é fundamental que aquele trabalho siga acontecendo, apesar de todas as dificuldades que aparecem no caminho. O nome do filme, inclusive, faz uma alusão a isso, pois a maioria das vítimas falam sobre si e sobre as outras conhecidas, mas ninguém efetivamente quer dar uma declaração oficial.

Vale pontuar aqui a incrível combinação entre essas duas atrizes de alto escalão. Não há trabalho que Mulligan não faça com perfeição e dedicação e aqui não é diferente. Ela vive a jornalista mais madura e com experiência de uma investigação que não teve o resultado esperado, além de ter que lidar com uma depressão pós-parto. Já Zoe está na pele da profissional menos experiente e cheia de sangue nos olhos para trazer uma boa matéria investigativa. A química da dupla é excelente de acompanhar, ainda mais que é cerca de um elenco igualmente competente.

Ela Disse traz muito da essência de filmes sobre jornalismo investigativo, como é o caso de The Post – A Guerra Secreta e do bem-sucedido Spotlight – Segredos Revelados, que venceu o Oscar de Melhor Filme em 2016. Para mim, como jornalista, é como lembrar dos motivos que nos levam a se apaixonar pela profissão. Ainda que aqui no Brasil o cenário seja bem diferente e bem menos glamourizado. O filme traz ainda importantes reflexões sobre a palavra da mulher na sociedade e como ela é sempre posta em dúvida, privilegiando a honra e a reputação dos homens que nos cerca. Filme de alta qualidade que vale a pena conferir!

Direção: Maria Schrader

Elenco: Carey Mulligan, Zoe Kazan, Patricia Clarkson, Samantha Morton, Andre Braugher, Jennifer Ehle, Ashley Judd, Hilary Greer, Elle Graham

Assista ao trailer!