Crítica: Baronesa

Ambientado na Vila Mariquinhas, periferia de Belo Horizonte, Baronesa narra a trajetória da protagonista Andreia. A moça, preocupada com a guerra entre traficantes, planeja sair de sua comunidade. O docudrama, dirigido por Juliana Antunes, revela cenas que parecem buscar chocar o espectador e desnudar o cotidiano de uma população desfavorecida monetariamente.

A intenção de Antunes é clara. Com poucos mudanças de enquadramento, utilizando principalmente o plano médio, com a câmera parada durante quase toda a projeção, o objetivo é criar uma imersão do público para com aquela realidade. No entanto, o filme provoca uma sensação de engasgo quando se pensa no olhar distanciando da equipe em relação aos indivíduos ali retratados. É um olhar burguês perante indivíduos de menos condições financeiras.

A partir desta reflexão, outro fator pode surgir na mente do espectador.  Algumas sequências são demasiadamente delicadas. Há no documentário uma exposição forte de crianças, do uso de armas e de drogas. Alguém, de fora do contexto da Vila Mariquinhas, filmar tantas cenas que marcam – ou até mesmo mancham – a imagem daquelas personagens pode ser considerado uma falta de zelo com pessoas que estão sendo retratadas na tela. Toda realização cinematográfica precisa uma atenção para o assunto que deseja abordar. Baronesa não tem esse cuidado e ainda parece uma junção de sequências fortes sem um questionamento mais concreto, fica apenas o choque por chocar e ponto.

Outro ponto a se destacar é a artificialidade das cenas. Quase tudo parece que foi muito ensaiado, o que é contraditório com o que Antunes aparenta querer transmitir. Esse olhar, quase de uma câmera que foi esquecida ali, é constantemente atrapalhado pela falta de naturalidade das sequências, desconectando uma intenção da outra. Apenas em um momento o tom parece se encaixar: quando a protagonista e sua amiga escutam o som de tiro e a equipe do longa, juntamente com os moradores da favela, correm em busca de proteção.

Ainda assim, há dúvidas sobre a espontaneidade das ações, visto que o acontecimento parece muito “perfeito” para se encaixar na música que a duas personagens cantavam. Apesar de todas as problemáticas existentes no filme, Baronesa é uma projeção que merece ser vista pela discussão que ele provoca.

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