Em A Chegada, Amy Adams (Trapaça) interpreta Louise Banks, uma especialista em Linguística chamada às pressas para solucionar um entrave de comunicação entre humanos e uma raça alienígena que acaba de chegar na Terra. O que a protagonista e o espectador do mais recente longa do canadense Denis Villeneuve (Sicario) não esperam é que esse contato acabe trazendo à tona determinadas recordações de profundo teor emocional para Louise. Ao final da sessão, a protagonista do filme e, possivelmente, o público ficarão devastados com o que toda a situação acaba revelando a respeito dos caminhos traçados pela acadêmica.
A ficção-científica que o leitor verá em A Chegada não é simplificada por efeitos especiais de ponta, ainda que eles existam, ou por sequências sonoramente estridentes de espaçonaves explodindo o nosso planeta. O roteiro de Eric Heisserer (Quando as Luzes se Apagam), baseado no romance Story of Your Life de Ted Chiang, parece querer utilizar sua trama de invasão extraterrestre como catalisadora de questões filosóficas de fundo privado. Esse intuito parece claro desde o primeiro momento, quando o espectador tem contato com a história de Louise e sua filha, morta por uma trágica doença. Esta história não é sobre a humanidade, ainda que possamos traçar paralelos com a vida de qualquer um, mas sobre Louise Banks.
Realizador de filmes tendentes a cisão de opiniões, Denis Villeneuve tem no currículo títulos certeiros na execução das suas metas como Os Suspeitos, suspense protagonizado por Hugh Jackman e Jake Gyllenhaal, e outros vacilantes como Sicario, longa cujo elenco é encabeçado por Emily Blunt, mas que tem um maestro perdido em meio a inconsistências do roteiro. A Chegada me parece uma obra intermediária da sua filmografia. O longa tem uma inegável e eficiente carga emocional, oferecendo um desfecho intenso que nos dá conta dos caminhos percorridos por sua protagonista e de uma compreensão profunda sobre ela a partir das escolhas que faz mesmo ciente do que a espera no futuro, nisso o longa de Villeneuve é preciso e atinge com muito impacto o espectador. Contudo, o diretor parece ainda sob efeito de uma certa falta de “pé no chão” durante a execução da sua obra.
Até chegar a esse momento de grande impacto emocional no final do seu longa, Villeneuve lida com flashbacks e projeções do futuro da protagonista que só parecem instigantes no último ato da sua trama, quando todas as suas questões parecem ficar mais claras. Diante das demandas inevitáveis de uma história atravessada por passado e futuro, o diretor parece estender o seu filme um pouco mais do que ele de fato solicita, conferindo ao mesmo um ar etéreo kubrickiano que o longa parece não requerer do realizador a partir de sonhos da protagonistas, silêncios entre os personagens e elocubrações visuais da fotografia de Bradford Young. Nesse aspecto, Villeneuve tropeça, ainda que, sublinho, ofereça um arco dramático inegavelmente forte para a sua protagonista, defendida com a discrição e sensibilidade pela sempre competente Amy Adams.
Assim, A Chegada é um filme que conquista o espectador emocionalmente, mas oferece como contrapartida algumas decisões questionáveis do seu realizador, que, assim como ocorrera Sicario, segue distraído na contemplação do seu próprio poder de composição imagético, muito mais do que às requisições da sua própria obra. Villeneuve estica o seu filme até não poder mais deixar de entregar o seu desfecho e se distrai com firulas por tempo demais. É certo que ele consegue oferecer um final satisfatório e dilacerante, mas um certo fio da meada se perde até chegar ao seu clímax emocional.
Assista ao trailer do filme: