Eu Espero o Dia da Nossa Independência

XVII Festival Panorama Internacional Coisa de Cinema: Eu Espero o Dia da Nossa Independência

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Em 2019, a população da Argélia estava revoltada e buscava por justiça política. Inconformados com o regime vigente, que contava com eleições corruptas, os argelinos fizeram um movimento chamado Harak. É neste contexto que duas brasileiras viajam para o país, para cobrir e registrar a mobilização popular e o que estava ocorrendo naquela terra. Por não poderem entrar em solo estrangeiro como cineastas, devido ao controle invasivo e violento do governo, as diretoras Bruna Carvalho Almeida (Os Jovens Baumann) e Brunna Laboissière (Fabiana) filmam tudo com seus celulares.

Com uma quantidade maior de planos gerais, imagens que tremem pela instabilidade do aparelho e uma narração que explica para os espectadores o que estes estão acompanhando, Eu Espero o Dia da Nossa Independência é bem sucedido, onde ele poderia ter falhado. Estes elementos presentes na decupagem e a ausência de equipamentos mais elaborados guiam o curta-metragem para um caminho de intimidade e proximidade com os eventos trazidos no enredo. É como se o público estivesse dentro dos trens, da passeata, dentro de algumas daquelas casas mostradas.

Além disso, quando a narração conta sobre dificuldades da Argélia, as semelhanças com o cenário político brasileiro, a amizade de Laboissière e Almeida com uma das militantes argelinas, todos estes fatores sensibilizam e tornam aquela realidade menos distante. Pelo contrário, revela as semelhanças e deixa uma chama dentro da vontade de que brasileiros façam o mesmo. Ainda que a pandemia tenha barrado os avanços dos protestos, os argelinos foram às ruas e lutaram por alguma mudança. O filme chega, inclusive, a mencionar o desejo de Laboissière e Almeida de que no Brasil algo parecido ocorresse.

Este sonho fica grudado na mente durante a sensação, o que conduz quem acompanha a história a se emocionar intensamente com cada grito de pedido de mudança e transformação que surge na narrativa. Desta maneira, o curta consegue imprimir uma dinâmica equilibrada, no geral. Entre relatar a luta do povo argelino, as sensações delas diante de um local novo, mas familiar, de alguma forma e criar relações com as situações brasileiras garante que a obra seja coesa e uma experiência intensa. Talvez, somente algo chegue como um incômodo, pois faz com que o ritmo seja irregular.

O tom de Eu Espero o Dia da Nossa Independência é igual na maior parte do tempo, não há criação de progressão, tanta gradação na tonalidade das vozes na narração ou novos elementos estilísticos que deem uma guinada nas velocidades, imagens e sons. Caso estes pontos fossem revistos, ele poderia ser ainda melhor.

Direção: Brunna Laboissière e Bruna Carvalho Almeida

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