Nesta semana, chega aos cinemas de Salvador o novo filme de Spike Lee: Infiltrado na Klan. A projeção mostra a história, baseada em fatos reais, de um jovem policial negro que consegue ser membro da seita Ku Klux Klan, para desmontar suas operações. Como ele realiza tal intento é algo para se descobrir durante a sessão! Aqui, Lee volta a sua forma mais expressiva de cinema, com um discurso potente, que consegue fazer um paralelo sobre o racismo do século XX e a resistência dos anos 1970, com a intolerância dos estadunidenses na era “Trumpiniana”.
A direção é segura e o cineasta coloca a câmera a serviço da luta estampada nos rostos negros e a perversidade e o mal cravada nas expressões dos racistas. A fotografia conversa com a direção de arte e o espectador sente ainda mais a ambientação da década que o longa se passa e os momentos de opressão do período pela contextualização temporal. Os atores John David Washington, Laura Harrier e Adam Driver são os destaques de interpretação.
Pensando no longa e no retorno expressivo de Lee como diretor, o Coisa de Cinéfilo elencou as melhores obras do artista. Confira!
Faça a Coisa Certa (1989) – Talvez o filme mais conhecido da carreira de Spike Lee, Faça a Coisa Certa é um clássico do cinema. As questões voltadas para as tensões raciais continuam super atuais, infelizmente, e cada sentada para assisti-lo é um soco no estômago. Escrito e dirigido por Lee, a tensão começa pelo fato do clima da cidade estar muito quente. No calor, as emoções ficam afloradas e aquilo é um motim para o sangue ferver e os confrontos acontecerem. As cores quentes, com os tons azulados, que se fazem presentes em alguns dos filmes do cineasta, passam para o espectador a sensação do incômodo causado pela temperatura, da passionalidade dos atos, da opressão e o olhar perverso do branco, da dor que está prestes a explodir.
Malcom X (1992) – Baseando-se nos livros do próprio Malcom e de Alex Haley, Spike Lee e Arnold Perl (Um Violinista no Telhado) adaptaram a história do líder negro para o cinema. Apesar de muitos percalços durante as filmagens, por questões de orçamento, Lee conseguiu terminar o longa e trazer uma super produção que conta a vida de Malcom desde sua juventude até a sua maturidade. Para além da direção precisa e versátil, com direito a vários estilos de projeção dentro de um grande gênero que é o drama, aqui se vê uma excelente atuação de Denzel Washington. O ator traz as nuances dentro das mudanças da personagem durante os anos de forma notável, sutil e cheia de carisma.
Febre da Selva (1991) – Intenso, profundo e complexo. Estas palavras conseguem resumir bastante este longa que foi dirigido, roteirizado e produzido por Spike Lee, que além de tudo isso, ainda atua no filme. Com uma história que tem como ponto central um romance interracial, a família e os amigos que cercam o casal também possuem participação relevante para a discussão sobre o racismo proposta pela narrativa. Contudo, existe algo que deixa o enredo muito mais potente: o machismo impresso nas personagens. Recentemente, o Coisa de Cinéfilo publicou uma crítica sobre Febre da Selva e você pode conferir o texto aqui.
O Plano Perfeito (2006) – Em um primeiro olhar, o público pode pensar que está vendo mais um filme sobre assalto a banco. Mas, o longa vai além disso e mostra as relações estabelecidas entre o bandido (Clive Owen), o policial (Denzel Washington), o dono do banco (Christopher Plummer) e uma lobista (Jodie Foster). Durante a projeção, o racismo é discutido e satirizado. E Lee dosa bem as duas facetas da produção. O espectador fica ansioso para desvendar a solução do conflito dos ladrões, mas sem deixar de mostrar preconceitos e situações estabelecidas dentro dos contextos sociais de cada personagem.