Estreia na direção de um longa-metragem do jovem ator Brady Corbet (do ramake de Violência Gratuita), A Infância de um Líder teve a honrosa menção no Festival de Veneza como melhor trabalho de estreia de um cineasta na edição de 2015 do evento. O longa acaba de chegar ao Brasil diretamente pelo Netflix e conta a história de Prescott, um garoto de 10 anos, filho de um diplomata americano (Liam Cunningham, de Game of Thrones) e de uma francesa (Bérenice Bejo, de O Artista), que passa a se comportar de maneira agressiva assim que a família chegam à Europa no final da Primeira Guerra Mundial. Desde o princípio fica claro que o realizador quer usar esta bizarra crônica familiar para falar sobre a ascensão de líderes fascistas na Europa no segundo conflito mundial e como a infância do garoto tem paralelos com a conturbada criação dessas figuras.
Claramente inspirado em alguns dos cineastas que já o dirigiram – imediatamente me vem na lembrança Lars von Trier (em Melancolia) e, o mais óbvio de todos, Michael Haneke (Violência Gratuita) -, Brady Corbet imprime uma atmosfera sombria e pessimista em uma trama repleta de simbolismos (a paleta de cores, a dinâmica entre seus personagens, a estrutura em capítulos etc.). No final das contas, o que o realizador estreante acaba entregando é um filme profundamente afetado, sem a menor sutileza nas suas construções simbólicas e na cartela de elementos que utiliza para impressionar o espectador. Assim, sem a menor cerimônia, o diretor usa e abusa de longuíssimos planos-sequência, trilha sonora estridente (aparentemente perturbadora) e uma câmera inquietante, que em dado momento do filme simula movimentos desordenados sugerindo o caos no cenário europeu diante da liderança fascista.
Hermético até encher a paciência do seu espectador mais fiel, que resiste à tentação de abandoná-lo com menos de meia hora de filme, A Infância de um Líder é um longa que, o tempo todo, chama a atenção para si. Em cada frame do longa é perceptível a presença de um diretor clamando em exclamações: “Olha o que eu sei fazer! Olha que sacada interessante! Olha que analogia genial!”. Esse tipo de afetação e arrogância é típico de quem está começando, podemos perdoar, mas também é o suficiente para afastar o público da obra e já dá um indício do tipo de relação que o realizador quer estabelecer com sua plateia. Desculpa, mas antes mesmo do primeiro ato terminar já percebemos que esse debut do Brady Corbet na direção e no roteiro de um longa-metragem é puro engodo.
Assista ao trailer do filme: