Netflix: Confira resenhas de 3 lançamentos originais do canal

Cada vez mais produtiva na realização de filmes e não apenas de séries, a Netflix disponibiliza em seu catálogo três produções: The Fundamentals of Caring, protagonizada por Paul Rudd e que acaba de chegar ao canal de streaming, o documentário Team Foxcatcher, que conta o mesmo caso fora retratado no longa indicado a 5 Oscars Foxcatcher, e a comédia Special Correspondents, de Rick Gervais. Leia  resenhas desses títulos abaixo:

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The Fundamentals of Caring

Você não vai encontrar nada de absolutamente revolucionário em The Fundamentals of Caring (numa tradução para o português ficaria algo do tipo Os Fundamentos do Cuidado),  mas esse simpático road movie de Rob Burnett (do inédito no Brasil We made this movie), baseado no romance de Jonathan Evison, lançado aqui como Amizades Improváveis, é o típico longa que consegue  cativar o espectador sem muito esforço. Chegando para o público brasileiro pelo Netflix, The Fundamentals of Caring traz Paul Rudd no papel de um escritor que resolve se aposentar após um traumático acontecimento em sua família e decide ser cuidador de portadores de doenças graves. No seu primeiro trabalho, ele é contratado por uma mãe solteira para cuidar do seu filho, um jovem amargo que tem uma distrofia muscular e que não deve passar dos 31 anos de idade. O resultado desse encontro é o de praxe, os dois personagens percorrerão um caminho cheio de aprendizado mútuo durante a viagem que o personagem de Rudd resolve fazer com o garoto para que ele conheça um local que sempre sonhou.

Burnett faz do seu filme uma história sobre o papel do afeto em nossas vidas e como ele pode nos levar a uma redenção, entendendo “cuidado” como algo abissalmente oposto a superproteção. Oferecendo uma história redondinha com personagens que não carecem de tanta profundidade assim em suas principais questões, a exceção dos seus protagonistas, The Fundamentals of Caring é uma dramédia leve que beneficia-se ainda por ter Paul Rudd e o jovem Craig Roberts em seus papeis centrais. Rudd, como sempre, se encaixa como uma luva nesse tipo “normal” e consegue um resultado interessante quando tem que expor o lado mais trágico do seu personagem. Por sua vez, Roberts destaca-se no longa por viver um jovem amargurado sem carregar muito na composição, tornando-o ácido e irônico, mas longe de transformá-lo em uma presença antipática no filme, algo que seria extremamente prejudicial. Entre os coadjuvantes estão Selena Gomez, Jennifer Ehle e Bobby Cannavale, interpretando papeis menores na fita, mas fundamentais na jornada dos protagonistas. Vale uma conferida por ser um registro afetuoso de relações humanas, mas não espere também nada muito refinado, nenhuma “invenção da roda”. No final das contas, é um filme para deixar a gente mais leve e ele consegue esse efeito se for assistido sem cinismos.

Assista ao trailer:

 

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Team Foxcatcher

Disponível no catálogo da Netflix, o documentário Team Foxcatcher explora eventos que foram contados em Foxcatcher – Uma História que Chocou o Mundo, longa que rendeu ao diretor Bennett Miller um prêmio em Cannes e que foi indicado a 5 Oscars em 2015 (clique aqui para ler a crítica desse filme). Diferente do filme de Miller, o documentário de Greenhalgh centra suas atenções na relação entre o milionário John du Pont e o atleta David Schultz, claro que esmiuçando um pouco mais os meandros da personalidade conturbada do financiador da equipe Foxcatcher, que no filme de 2014 fora interpretado brilhantemente pelo subestimado Steve Carell. Mark Schultz, irmão mais novo de David, não entra no documentário como um dos entrevistados e sequer é mencionado, o que, se por um lado, é coerente com os propósitos do filme já que fica evidente o seu desejo de explorar a relação de somente dois personagens e eventos que sucederam a saída de Mark da propriedade de du Pont, por outro lado, é uma lacuna sentida sobretudo em função da forte presença em nossa memória da interpretação de Channing Tatum em Foxcatcher.

Ademais, claro que Team Foxcatcher vive à sombra do título dirigido por Bennett Miller. Nem teria como Jon Greenhalgh evitar as associações e a ingrata posição assessória desse documentário diante da obra do realizador norte-americano, mesmo que esta tenha sido tão pouco compreendida e recepcionada aquém do que realmente merecia após sua passagem por Cannes. Todavia, esse documentário, que se apoia em uma estrutura tradicional de depoimentos e passagens dos personagens reais no cenário da tragédia, tem muita força na maneira com que se debruça sobre a personalidade de du Pont, adicionando ainda mais camadas ao tratamento já exemplar conferido a ele pelo longa de Miller e pelo ator Steve Carell (cujo cuidado em sua composição é comprovado quando temos acesso a entrevistas de du Pont nesse documentário), e na forma com que humaniza seus personagens sem redimí-los de qualquer culpa.

Assista o trailer:

 

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Special Correspondents

Na linha Mera Coincidência, filme de 1997 dirigido por Barry Levinson e protagonizado por Robert De Niro e Dustin Hoffman, a produção original da Netflix Special Correspondents é uma comédia dirigida, roteirizada e estrelada por Rick Gervais que traz a história de um jornalista e um técnico de uma emissora de rádio que simulam a cobertura de um conflito no Equador no porão de um café após perderem o voo para Quito, onde acompanhariam o fato in loco. Acontece que, diferente do filme de Levinson, Special Correspondents não aproveita o humor e o oportuno gancho do seu roteiro para esmiuçar suas possíveis temáticas políticas ou uma crítica mais mordaz às ações dos grandes veículos de comunicação norte-americanos nesse tipo de situação.

Tudo na comédia é verniz para contar uma história inofensiva que tem lá os seus bons momentos, todos eles proporcionados pela ótima parceria de Gervais com o ator Eric Bana, que sempre rende muito em papéis cômicos quando bem aproveitado, mas que não consegue oferecer nada além do descartável. Com um roteiro marcado pela falta de coragem e um terceiro ato completamente descabido e fora de rota, Special Correspondents é uma oportunidade mal aproveitada, resultando em um filme que passa longe do desastre, mas que está bem aquém dos talentos que o estrelam (além da dupla principal, o filme conta com Vera Farmiga no elenco) e do potencial que a aliança entre o seu gênero e sua temática sempre tendem a produzir.

Assista o trailer: