O Jardim Fantástico

Mostra de Tiradentes: O Jardim Fantástico

4.5

Em uma atmosfera que mistura aspectos do real com o fantástico, os diretores Fábio Baldo (Caos) e Tico Dias (Geru) conseguem trazer um resultado equilibrado para O Jardim Fantástico e criar imagens que dialogam com as ações do filme. Mostrando uma professora que cria uma relação profunda com seus alunos, através de conversas com os mesmo e do consumo chá de Ayahuasca, cada frase dita durante a projeção soa intensa e cheia de significados.

Talvez, seja árduo procurar transmitir em palavras as sensações que Jardim Fantástico passa. São silêncios e movimentações que expressam os sentimentos das personagens de maneira direta, mas também com uma amplitude de possibilidades de interpretação. Dentro da turma de crianças, um dos meninos se destaca na trama. A repetição de sua frase “Esta não é a história que eu queria contar”, o abraço que ele dá em uma figura que aparece em verde Chroma key, para depois se tornar o Universo, a sua interação com a professora, todas estas sequências dialogam com elementos da sociedade que precisam ser discutidos.

Nesta representação, vinda pela figura da mulher indígena docente e do garoto negro, o público encontra na tela metáforas sensíveis para falar de assuntos fortes. São diversas sugestões que se amplificam a cada minuto de projeção, como na cena em que a professora vê televisão e está com os desenhos dos alunos nas mãos. É como se existisse uma ligação entre as duas coisas, porque em O Jardim Fantástico está tudo bem amarrado e estruturado, sem que o espectador seja subestimado nenhum instante.

Além de possuir um discurso exposto com criatividade e intensidade, esteticamente, o curta entrega quadros que fomentam a qualidade técnica da produção e trazem mais informações para compor o argumento ali exposto. Entre tons brancos e verdes, há uma ambientação que remete quase a um paraíso, no qual se poderia começar tudo novamente, em outro tipo de país que se formaria, com uma mentalidade distinta e uma espiritualidade consciente.

Desta maneira, a obra traz uma pauta nítida, mas com um olhar sensível, que trabalha com o lúdico, a imaginação e as sutilezas. Ainda que em certos momentos tenha uma dinâmica repetitiva, a sua riqueza mora na construção de um universo ficcional elaborado e cheio de camadas, que pode ou não ser desvendadas.

Direção: Fábio Baldo e Tico Dias

Elenco: Zahy Guajajara, Luiz Felipe Jesus, Thaia Perez, Roberto Alencar

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