Contraste baixo, paleta de cores, majoritariamente, em tons pastéis, sons diegéticos do mar e os ruídos da praia. Logo nos primeiros minutos de Verlust, o tom do filme e as sensações que ele deseja passar são instaurados. Este é um longa que revela intensa preocupação estética, utilizada para contar uma história sobre um grupo que lembra uma espécie de família, ainda que não seja uma propriamente dita.
Assim, unidos, principalmente, por uma suposta relação profissional, a trama escancara logo de cara que os laços mostrados ali vão muito além do trabalho. O elo que liga todas as personagens é a figura de Frederica (Andrea Beltrão), uma empresária, mãe, esposa, ex-namorada, uma figura que tenta representar tudo neste enredo. Contudo, o longa acaba por se valer muito mais dos aspectos formais e se perde por não sustentar a grandiosidade trazida pelo olhar do cineasta Esmir Filho (Saliva).
A começar pela mise-en-scène cuidadosa, que trabalha com as sensações das personagens, juntamente com o ambiente apresentado na tela e a movimentação do elenco por aquele espaço que os conecta e sufoca ao mesmo tempo. As tensões entre eles são fomentadas por uma aparente tentativa de progressão. No entanto, as informações são postas de maneira frouxa. Isto porque desde o princípio da exibição o tom das emoções reveladas no enredo já é intenso e deixa no ar um clima de suspense, como se algo estivesse por vir, mas isto nunca chega. O nó e as ferramentas narrativas para o desenlace são claros demais para que os diálogos e embates se sustentem.
Há no longa um afastamento claro na força do que se conta com o como é contado. Assim, Verlust é uma produção que se eleva na forma, porém fica por aí. É como se todos os outros elementos chegassem quase lá, como é o caso do relacionamento de Frederica com Lenny (Marina Lima). O passado e o presente das duas é subestimado e ganha pouco tempo de projeção e desenvolvimento. Há um constante anúncio de virada que não ocorre, deixando que todos os conflitos sejam resolvidos, inclusive os delas, nos últimos minutos.
Outro fator que pode ser apontado como um “bater na trave” são as atuações. Beltrão parece representar mais do que interpretar. A racionalidade de sua Frederica colide com a sua própria, de atriz. Há somente um lampejo de uma provável boa criação. Já o restante do elenco é um tanto inexpressivo. Eles não alcançam o nível de complexidade proposta por Filho na sua direção. Talvez, tenha faltado motivação ou criação de gênese das personagens. Ainda que haja alguma dignidade neles, falta expressividade, tônus corporal e uma imersão mais forte para que as emoções afloradas não soem exageradas, principalmente nas sequências de brigas.
No final das contas, o que vale em Verlust é aproveitar as atmosferas criadas, seja pelo sufocamento causado por esse ambiente fechado e cheio de clausuras, pelas músicas de Marina Lima, que fomentam a tradução dos sentimentos de cada integrante desta rede de relacionamentos postos por Frederica e pelo apuro do trabalho de Esmir Filho, que imprime na sua direção tudo que falta no restante do longa.
Direção: Esmir Filho
Elenco: Andrea Beltrão, Marina Lima, Alfredo Castro
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