Caixinha de Música

Mostra de Cinema de Ouro Preto – Caixinha de Música

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Em uma animação enxuta, de nove minutos, o público acompanha a jornada de uma menina, aspirante de balé. Ela faz uma nova amiga, após receber um objeto misterioso: uma caixinha de música. É curioso observar a forma como acontece a construção da relação da protagonista com a garota que ganha vida quando a corda da caixa, com o foco nos ensinamentos da dança de uma para a outra. Dentro desta lógica, é quase como se o espectador já soubesse o resultado final daquela dinâmica, mas é no como que o curta-metragem consegue segurar a atenção, através da suspensão e da atmosfera de terror posta ali.

Na mescla dos traços meigos, que poderiam sair de um desenho genérico, estão elementos que provocam certa apreensão. Seja nas colegas de turma sem face ou no detalhe da bochecha da personagem principal, algo de medo está sempre ali. Neste contraponto da suposta delicadeza do universo do balé com os aspectos macabros – como a expressão facial da senhora que entrega a caixa –, o curta se revela corajoso por arriscar um final angustiante e até trágico.

O desfecho também é cíclico, deixando com que o roteiro fique redondo, ampliando a compreensão sobre como foi que havia começado o conflito anterior, o da jovem aprisionada, no pré-filme. Talvez, a informação de que aquela bailarina já esteve presente na mesma instituição da protagonista, na conclusão da obra, acabe soando como uma reiteração e reduzindo as chances de uma expansão maior de significados e de interpretações mais amplas. Além disso, esta escolha passa uma impressão de que a plateia está sendo subestimada, pois as peças colocadas na tela são nítidas anteriormente e não precisam ser explicadas por uma sequência que soa até ingênua.

Outra melhoria seria em termos de roteiro de Caixinha de Música, com uma tentativa em dar mais destaque ao relacionamento da dupla central, para aumentar o peso das ações da criança previamente amaldiçoada. Contudo, estes fatores não afetam o resultado total. O curta é amarrado e ainda evoca um tom quase de contos de fadas, deixando uma moral da história em sua conclusão, misturando toques de sensibilidade e sentimentos das personagens com o pavor e pânico, devido ao fato de que a criança careceu em ouvir conselhos, geralmente, dados por adultos. Ao aceitar algo de uma estranha, a bailarina principal perde a sua liberdade.

Direção: Ana Carolina do Monte