Amarelo Manga

Mostra de Cinema de Ouro Preto: Amarelo Manga

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Intenso. Esta seria a melhor palavra para descrever Amarelo Manga, filme de Cláudio Assis (Baixio das Bestas), de 2002. Em um tom que mescla violências verbais e físicas com sentimentos extremos, o espectador se depara com emoções humanas à flor da pele, no meio de cenários urbanos cotidianos. A partir das características impressas apresentadas na tela, existem acertos e incômodos durante a projeção. Com esta escolha de revelar situações fortes, em alguns momentos, o filme se perde e se encontra.

Em sua direção, há bastante precisão e um descortinamento das personagens a partir dela. As movimentações de câmera contribuem para o aumento das potencialidades das emoções das figuras em cena, revelando as suas dúvidas, solidões, angústias, pensamentos e seus atos questionáveis. Um exemplo pode ser o monólogo de Dunga (Matheus Nachtergaele), que conversa sozinho, enquanto toca na carne e na faca deixadas por Wellinton (Chico Diaz), por quem nutre uma paixão.

Em poucos minutos, o público compreende as motivações e pensamentos de Dunga e a aproximação para com ele se dá gradativamente, a partir do quadro que reduz o distanciamento pouco a pouco. São nestes pontos que o longa-metragem acerta, porque consegue evocar a humanidade de suas personagens, colocando uma mistura de sordidez, de falha de caráter e sensibilidade sem julgar eles e a direção faz esta potência crescer.

Amarelo Manga

As temáticas são pesadas e certas sequências podem deixar o público em dúvida da necessidade de tais ações, como quando Kika (Dira Paes) arranca um pedaço da orelha da amante do marido com o dente, mas outras são justificáveis a aumenta a complexidade da história. O que acontece aqui, talvez, é uma tentativa de esticar os limites dos conflitos, colocando as personagens para passarem de seus limites.

A tentativa parece ser a de expor becos sem saídas e pontos de virada com sofrimento ou embates profundos, testando as probabilidades de ações humanas quando há pouco ou nada a se perder. No entanto, apesar deste efeito ser alcançado, a medida das coisas é ultrapassada e a própria estilística e traços marcantes do enredo se desgastam e um exagero é alcançado. Além de planos que não contribuem para a trama no geral, que se esvaziam pelo desejo demasiado em trazer ferocidade para o ecrã, a busca por trazer uma carga dramática elevada acaba gerando uma artificialidade.

Seja nos textos, nas atuações ou no próprio tempo de alguns quadros, Amarelo Manga peca por querer reiterar as informações textual e imageticamente, enfraquecendo o resultado total, por deixar a obra cansativa e sem organicidade. Existem anúncios recorrentes que beiram a ingenuidade, como se fosse necessário manifestar o discurso em tudo. Desta forma, pode-se dizer que, no geral, há coerência e força nas imagens e no que está sendo dito. Apesar da mão pesar em certos quesitos, é uma sessão arrebatadora, que convoca um olhar atento para seus acontecimentos.

Direção: Cláudio Assis

Elenco: Chico Dias, Dira Paes, Matheus Nachtergaele, Leona Cavalli

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