Com uma suposta premissa de contar a história da dançarina e faquiresa Suzy King, A Senhora que Morreu no Trailer procura convocar formas múltiplas de encenar esta trama. Entre performances de artistas de diversas áreas – como músicos, atrizes e performers – a obra também mescla depoimentos sobre o passado de King, com entrevistados que a conheceram. No entanto, o documentário, por mais que tente trazer criatividade para a tela, perde-se e se esgarça, perdendo o foco principal de seu plot central.
Na aparente tentativa de traçar os passos, sentimentos, as relações e a morte de Suzy King, o filme acaba se alongando em sequências nas quais o público acompanha cenas extensas que se esvaziam por não serem tão enxutas, fazendo com que seja notados tanto os problemas de direção quanto de roteiro. Um exemplo são as caminhadas intermináveis das personagens, como nas aparições da atriz Helena Ignez. Ela vaga pela cidade e há até uma boa atuação de Ignez, com tônus e intenções bem demarcadas, pela sua construção corporal.
No entanto, estes instantes não parecem possuir um objetivo nítido, tão pouco fomentam a narrativa. Talvez, se esta estratégia surgisse uma ou duas vezes, com uma duração um pouco menor, o efeito desejado fosse alcançado. Mas, o que ocorre é justamente o oposto. Neste sentido, outros momentos, nos quais artistas dão vida à King, a sensação é bastante semelhante. No monólogo realizado por Divina Valéria há uma ausência de condução da direção e de um encaminhamento mais cuidadoso.
Além da interpretação de Valéria ser um tanto artificial, por se basear na externalização das emoções, mais do que no sentido do texto propriamente dito, causando um afastamento de sentimentos críveis, a luz está bastante chapada e a direção de arte sem apuro estético. Esta combinação de características deixa que o longa-metragem fique sem um tratamento necessário para ser uma obra audiovisual, de fato. A Senhora que Morreu no Trailer é um documentário, mas que utiliza o ficcional para ilustrar as suas passagens. Então, artifícios técnicos elevariam a qualidade das cenas, deixando-as mais fluídas e orgânicas.
Uma possibilidade para a existência destes incômodos pode residir no fato de que os realizadores, Alberto Camarero e Alberto de Oliveira, fizeram todas estas funções. Na divisão da atenção, diante de tanto elementos, esta redução qualitativa acabou acontecendo. De todo modo, a produção termina entregando um resultado visual e narrativamente insatisfatório. Isto porque, para completar, o roteiro, em suas idas e vindas, carece em focar na trajetória de sua protagonista, deixando mais tempo para as pequenas encenações de ficção, que também são trabalhadas de maneira precária.
A personalidade de King e os acontecimentos que envolvem sua vida talvez sejam cheias de filigranas, de mistérios e camadas de profundidades. Contudo, estas características se perdem na sessão, pois, nesta falta de organização, o conteúdo entregue soa improvisado demasiadamente, deixando pouco espaço para que a figura de Suzy King seja conhecida.
Direção: Alberto Camarero e Alberto de Oliveira
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