Mary, Mary So Contrary

Festival Olhar de Cinema: Mary, Mary So Contrary

4.5

Reunindo imagens de arquivo de Spring in a Small Town, de Fei Mu e A Dama Oculta, de Alfred Hitchcock, o curta-metragem Mary, Mary So Contrary, dirigido por Nelson Yeo, evoca uma história melancólica, poética, irônica e um tanto angustiante. Começando e encerrando da mesma maneira, com um rebanho de ovelhas, o espectador vê uma mulher que se divide em duas. Há uma realidade múltipla, que mescla sonho e realidade. Traçando conexões e misturando obras originais, uma ocidental e outra oriental, há uma constante transição de sentimentos e pensamentos dentro da mente desta protagonista Ma Li/Mary.

Neste fluxo de imagens mescladas, há uma investigação profunda sobre as tensões das relações humanas, as linhas entre o dito mal e bem e as perspectivas de raça, localidade e gênero. Yeo monta uma espécie de fábula e consegue criar uma narrativa coesa, cheia de particularidades. O que salta aos olhos é a capacidade do cineasta lidar com materiais tão distintos e de propósitos artísticos diferentes e criar esta nova trama. E esta é uma intenção que fica bastante clara durante a projeção. Há uma vontade de revelar os conflitos, olhares e possibilidade, a partir de uma origem branca ou não branca.

O ponto alto aqui é o sarcasmo presente nas transições de Ma Li para Mary. As idas e vindas desta personagem que aparenta ser tão perdida, mas também curiosa e sagaz. As temperaturas inseridas na tela também evocam sensações que contribuem para a construção desta personalidade ambígua, das atmosferas que imprime o real e o fantástico em poucos segundos. As sequências espelhadas despertam também a ideia de confusão mental e de transição destes corpos, algo necessário para a composição da obra, da Ma Li/Mary.

Nesta manipulação de imagens, Mary, Mary So Contrary dialoga e conversa com o público, através desta junção de culturas e cinemas tão distintos. Há, assim, uma abertura de interpretações, a partir desta construção, que imprime uma produção que ainda que sai de um fluxo narrativo “lógico”, é bem amarrado e estruturado, dentro daquilo mesmo que cria.

Direção: Nelson Yeo

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