Primeiro, vem a força de um discurso militante, vindo na voz de uma mulher. O espectador apenas escuta o que ela diz, em off, as palavras são interrompidas por sons de tiro. Em seguida, chega o nome do filme: Cor de Pele. Após este momento, a projeção passa a mostrar diversos performers que olham para a tela e movem seus corpos. No áudio se escuta um poema declamado na voz da própria diretora do curta, Larissa Moura Barbosa.
O ponto alto aqui é como, em poucos minutos, a narrativa se faz clara, direta e incisiva. Ao mesmo tempo, há uma mescla de forças impressas na tela. A voz de Barbosa é suave, enquanto diz um texto forte. As imagens das personagens na tela contam situações intensas e cruéis da sociedade, mas há nesta representação detalhes que revelam a resistência destes corpos e a criatividade para expressar toda a dor e luta vivida pela população negra.
A tonicidade presente nestas figuras que preenchem o ecrã também contribuem para o que a obra deseja contar e como ela o faz. Os olhares marcados, direto para a câmera fomentam ainda mais este elemento. Os movimentos são bastante marcados, criando sempre a contraposição dos brancos opressores e dos negros que vivem no constante embate para conseguir viver dentro da realidade racista presente no mundo.
Contudo, apesar de ter como mérito esta construção de símbolos tão imponentes, algumas dinâmicas falham e ficam no meio do caminho de Cor de Pele. O maior motivo deste resultado são os momentos que trazem encenações demasiadamente ilustrativas, como na sequência na qual uma mulher passa roupa e um homem branco chega para segurar a sua mão. A cena acaba por ficar artificial, justamente pela própria linguagem estabelecida pela produção, não existe um contexto prévio ou posterior para deixar aquilo mais orgânico. Desta forma, fazia-se necessário uma exposição que conseguisse trabalhar alguma progressão e fluidez, pensando em todo este contexto que é apresentado durante a projeção em um tempo tão reduzido.
Direção: Larissa Moura Barbosa
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