Neste curta-metragem, aparentemente, singelo, Fábio Rodrigo traz uma intensa, comovente e triste história de alguns integrantes de sua família. Deixando que sua câmera tome o tempo necessário em Entre Nós e o Mundo para investigar movimentações cotidianas da Vila Ede, é possível, juntamente com as imagens, escutar o relato de Erika, jovem mãe que perdeu um de seus filhos, Theylor, que foi assassinado pela polícia, aos 17 anos. Ouve-se também outras vozes de parentes, como a avó de Theylor.
Entre os momentos felizes capturados, da nova gestação de Erika, o público jamais perde de vista as recordações de um passado cruel e injusto. É focando nesta ambientação da trivialidade cotidiana, com as narrações que falam das preocupações com as invasões policiais violentas e vivências, geralmente, tradicionais da sociedade é que Rodrigo encontra seu equilíbrio. A vontade de seguir e a impossibilidade de esquecer a realidade dos fatos que circunda as personagens estão presentes durante toda a projeção.
Em um dos muros da Ede, uma frase forte ilustra o argumento central do filme: “Nada Muda”. Se não há transformação, como não se preocupar com todos aqueles que os cercam? Qual será o futuro desta nova vida que surge ali aos olhos do espectador? Qual será o destino de Alícia, recém-nascida de Erika? Estas perguntas não são postas nos diálogos diretos, porém se espalham pela mente de quem assiste a sessão. Esta característica vem justamente do direcionamento das perguntas de Rodrigo para Erika, que são feitas de forma não enviesada.
É na conversa costumeira, que poderia ser um papo comum do dia a dia, que são retirados os instantes mais fortes. O ponto alto aqui está na sequência na qual se vê o quarto de Alícia, durante uma conversa da dupla. Entre planos que revelam os detalhes daquele espaço tão meigo, a lembrança da vida de Theylor se tornam ainda mais impactantes. Dentro de todo este contexto, Entre Nós e o Mundo mostra, com simplicidade e cuidado, a mais profunda verdade inserida em seu título, há muito para ser aproveitado e conhecido, porém existe também a constante luta pela sobrevivência daqueles que moram em favelas, que estão marcados para morrer por um Estado racista e devastador, que interrompe a felicidade, a jornada e a juventude de uma parte bem específica da população. Até quando?
Direção: Fábio Rodrigo