Especial: Um perfil sobre as dificuldades de consolidação da DC Films

Deixar uma marca num ramo com tanta rotatividade criativa e competitividade é um desafio. A produtora DC Films vem tentando, sem muito êxito, consolidar-se no meio cinematográfico há anos. Graças a Marvel Studios – produtora dos Vingadores e companhia -, a caminhada da DC acaba sendo um pouco mais complicada. Liga da Justiça, uma das obras cinematográficas mais esperados de 2017 pelos amantes de super-heróis e histórias em quadrinhos, estreou causando uma discussão imensa acerca do resultado apresentado ao público. Para entender os problemas e atrasos na qualidade perfectiva dessa e de outras produções, é necessário entender primeiro o histórico da produtora no cinema.

A DC estreou nas telonas, em 1978, com Superman: O Filme, contando com a parceria da Warner Bros. Pictures desde o início. Com a popularidade do homem de aço nos cinemas, sequências da história foram feitas até que o trabalho se estendeu para o universo do cavalheiro das trevas dando a produtora uma chancela de qualidade. Após o ápice, a DC Films viveu um hiato de produção que durou de 1997 (com a estreia do não tão bom Batman & Robin) até 2004 (com o lançamento do fraquíssimo Mulher-Gato).

As tentativas foram inúmeras para retomar o espaço e qualidade no mercado, mas os fracassos com filmes como Superman: O Retorno (2006), Jonah Hex (2010) e Lanterna Verde (2011) só atrapalharam o processo – mesmo tendo, simultaneamente, o estouro da brilhante trilogia do Cavalheiro das Trevas, dirigida por Christopher Nolan. Em contrapartida, durante o espaço de tempo onde a DC se afundava com péssimas produções, a Marvel Studios se consolidava no universo cinematográfico com filmes solo de seus principais heróis – o que os permitiu expandir o universo posteriormente, criando Os Vingadores, em 2012. O maior erro da parceira da Warner foi, portanto, a demora para estabelecer sua personalidade fílmica e a lentidão para firmar uma identificação entre o público atual e seus super-heróis.

O desacerto segue a acarretar problemas nas produções mais recentes, como Batman vs Superman: A Origem da Justiça (2016) e Esquadrão Suicida (2016). O primeiro filme a introduzir a nova versão dos heróis mais antigos do estúdio (Batman e Superman – agora vividos, respectivamente, por Ben Affleck e Henry Cavill) peca pelo excesso em todos os aspectos possíveis. O longa é muito extenso, o tom dramático está acima do necessário, há uma introdução de muitas personagens e seus respectivos contextos de uma só vez – fazendo com que a história seja confusa -, além das oscilações de personalidade cinematográfica (uma hora é uma cópia dos Vingadores e, logo em seguida, a dramaticidade pesada que caracteriza os quadrinhos da DC volta à tona). Já o segundo é uma piada diante do espectador. Esquadrão Suicida não tem nenhuma coesão na sua apresentação como obra cinematográfica. A película é um emaranhado de cenas regravadas – para se aproximar do universo cômico-infantil da Marvel – e costuradas por uma espécie de açougueiro bruto que não entende o que está fazendo.

Em 2017, a DC Films tentou definir, mesmo que tardiamente, sua personalidade na composição de obras cinematográficas e acaba começando a acertar na receita. Com o sucesso de Mulher-Maravilha, a DC consegue, depois de anos, um sucesso estrondoso de bilheteria e de qualidade artística. O filme protagonizado pela amazona – vivida pela atriz israelita Gal Gadot – é harmônico e bem lapidado, sem deixar pontas soltas tanto para a história da heroína como para a futura incorporação dela na Liga. Afinal, toda essa preparação feita através das estreias de O Homem de Aço (2013), seguido por Batman vs Superman e, mais recentemente, com o filme da Mulher-Maravilha foi para chegar ao objetivo único e monumental – cujo é capaz de consolidar o universo cinematográfico da DC e os heróis no imaginário dos fãs – o lançamento de Liga da Justiça.

A união dos principais super-heróis do Universo Estendido da DC em um só filme foi o foco desde o início dos trabalhos de reformulações indenitárias do estúdio. A Liga da Justiça conta com a introdução de três novos personagens – Flash, Aquaman e Ciborgue (interpretados, respectivamente, por Ezra Miller, Jason Momoa e Ray Fisher) – que estrelam o longa ao lado do Batman, Superman e Mulher-Maravilha. Dessa forma, o universo cinematográfico compartilhado de personagens da DC Comics estaria preparado para se desenvolver ainda mais com a produção de novos longas e a introdução de outros super-heróis que o compõem.

Liga da Justiça chegou aos cinemas brasileiros no dia 15 de novembro e com ele seus problemas foram revelados. Uma polêmica rodeava o longa-metragem desde o final de sua produção: houve uma troca de diretores, de Zack Snyder (que dirigiu também O Homem de Aço e Batman vs Superman: A Origem da Justiça) para Joss Whedon (diretor dos filmes sobre os Vingadores da Marvel), gerando algumas refilmagens. Por conta dessa mudança na direção, ainda há alguns erros e deslizes evidentes que atrapalharam a narrativa e, também, a personalidade da obra. O resultado, entretanto, é algo de qualidade. Um filme que conseguiu, sem os problemas de exagero d’A Origem da Justiça, colocar, num tempo razoável para o espectador, uma quantidade grande de histórias sem que estas perdessem o sentido. Entrando para a terceira semana nos circuitos de cinemas pelo mundo, a arrecadação do longa caminha para os 600 milhões de dólares, provando, portanto, que o Universo DC parece ter achado sua estrada dos tijolos amarelos.

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