O Oscar 2019 nos traz mais uma categoria de incertezas, que é a de Melhor Ator. As premiações anteriores privilegiaram diferentes atuações, dando mais foco em Rami Malek, por Bohemian Rhapsody, e Christian Bale, por Vice. No entanto, mesmo não tendo o reconhecimento (até o momento), outros candidatos fortes entram na disputa, como é o caso de Viggo Mortensen, por Green Book: O Guia, e Bradley Cooper, por Nasce Uma Estrela. Fechando a lista dos indicados nesta categoria, temos a não tão badalada indicação, mas também justa, de Willem Dafoe, pelo longa No Portal da Eternidade!
Willem Dafoe, por No Portal da Eternidade
Em No Portal da Eternidade, Willem Dafoe interpreta ninguém menos que o pintor Vincent Van Gogh e a sua batalha travada com os transtornos mentais que o acometem. Marcado por um estilo de filmagem mais cru e lento, o longa nos oferece bons momentos para compreender ainda mais a história do artista. Dafoe nos apresenta um trabalho brilhante e primoroso, completamente incorporado na dualidade e devaneios de Van Gogh. É ele quem nos conduz na narrativa, ora confusa, e funciona como o pilar estrutural da trama. Willem chegou a aprender a pintar para incorporar ainda melhor o personagem. São nos pequenos detalhes que ele consegue traduzir o protagonista, desde o olhar perdido até o desespero intenso de suas emoções.
Christian Bale, por Vice
Agora, vamos com Christian Bale e sua atuação em Vice. O ator interpreta o político americano Dick Cheney, que foi o vice-presidente durante o período de George W. Bush. Sob a direção afiada e nada básica de Adam McKay, Bale vai construindo a personalidade do protagonista em consonância com todas as suas aspirações de poder. Ele não apenas engordou 20 quilos para o papel, como estudou bastante o comportamento de Cheney, tanto físico quanto emocional. O resultado é um personagem com várias facetas que funciona como o pilar da história dissecada por McKay. Este é um papel bem diferente do que Bale está acostumado fazer. Embora assuma o protagonismo da história, ele tem pouco espaço para se expressar com liberdade, sendo sempre contido e mais calculista. Isso foi o suficiente para lhe render o Globo de Ouro de Melhor Ator de Comédia ou Musical, mas será o suficiente para levar o Oscar?
Bradley Cooper, por Nasce Uma Estrela
Já Bradley Cooper é uma pedra preciosa que vem sendo deixada de lado na maioria das premiações. Em Nasce Uma Estrela, além de ser responsável por roteiro, produção e direção, ele assume o papel do protagonista, o cantor Jackson Maine. É curioso ver o quanto as pessoas enaltecem o trabalho de Lady Gaga, quando, na verdade, a alma do filme é Cooper. Ele transita por muitos sentimentos do personagem e o espectador acompanha de perto o sufoco e a queda do músico. É como se uma estrela precisasse apagar para que outra acendesse. Bradley nos presenteia com o melhor trabalho de sua carreira, o mais intenso, profundo e contundente. Ele não apenas nos envolve pelas emoções, quando pela realidade de tudo que ele passa. A dedicação fora de tela trouxe ainda mais força para o que acontece diante de nossos olhos, em um trabalho incrível. Pena que ele não esteja sendo devidamente reconhecido nas premiações.
Rami Malek, por Bohemian Rhapsody
Quem está recebendo toda a glória e reconhecimento é o ator Rami Malek. No papel de Freddie Mercury, em Bohemian Rhapsody, ele nos oferece uma nova faceta de atuação, que antes não conhecíamos. Rami é, definitivamente, um excelente ator e sua dedicação em aprender tudo sobre o protagonista (até a forma de mexer as mãos), faz com que ele seja o próprio Mercury em tela. A minha questão, no entanto, é o excesso de afetação do ator, que consegue transcender o personagem. Embora muito boa, esta não é uma atuação formidável que merecia o maior prêmio do cinema. Considero inferior a outros concorrentes, como Bradley e Viggo. O filme, que passou por um processo intenso de troca de diretores, pode ter contribuído para essa percepção menos gloriosa. É como se o espectador percebe-se o tempo todo que é Rami interpretando Freddie naquele momento e isso desfavorece a experiência como um todo.
Viggo Mortensen, por Green Book – O Guia
Para fechar, o ator Viggo Mortensen nos traz o papel mais “fora da curva” de sua carreira no longa Green Book – O Guia. Ele interpreta Tony Lip, um fanfarrão descendente de italiano e preconceituoso que embarca em uma viagem com o seu novo chefe negro. Todo o processo de descoberta do personagem é incrível de se ver e vivido com tanta intensidade e cuidado por Viggo. Assim como Bale, ele engordou mais de 20 quilos e se esmerou na arte de aprender a se portar como um descente de italiano nato, com todas as suas peculiaridades. Ele é o foco do filme, com todas as descobertas e transformações que sofre ao longo da viagem. Viggo transita por muitas emoções e se desdobra nas camadas de Tony. A sua melhor atuação da carreira e a mais diferenciada, definitivamente.