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Especial: Eternos – Pontos Altos e Baixos

Está em cartaz nos cinemas a nova produção do Universo Cinematográfico Marvel: Eternos. Dirigido por Chloé Zhao – vencedora do Oscar de melhor direção, por Nomadland –, o filme conta a história de um grupo de heróis de outra raça, que habita o planeta Terra por diversos séculos, a partir de uma missão específica. Os Eternos, nome do clã destes super poderosos, precisam eliminar os Deviantes, uma espécie que ataca e devora os humanos. Bom, pelo menos, este é o plot inicial.

Entre tentar introduzir todos os elementos deste novo universo ficcional, com diversos nomes novos, background longos das personagens e suas relações, a grande questão do longa-metragem é o tempo que ele demora para engatar a sua história. Ao mesmo tempo, ao passo em que a narrativa começa a caminhar e cessa a apresentação extensa, realizada até quase todo o segundo ato, a conexão com a obra se inicia e o espectador pode se pegar vibrando em sua poltrona.

Pensando nisso, o Coisa de Cinéfilo reuniu os pontos altos e baixos de Eternos, com o objetivo de trazer uma breve ponderação do que há de melhor e mais dispensável nele. Antes de mais nada, é preciso salientar que, mesmo com fragilidades, este não é um produto ruim. O que acontece aqui é que existe uma vontade tão intensa de mostrar toda a jornada destas heroínas e heróis, que alguns deles ficam subaproveitados e sem camadas. Vê-se apenas a ponto do iceberg de cada situação. Mas, seus deslizes não diminuem seus acertos, como será explicado a seguir. Confira! 

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PONTOS ALTOS

  1. Progressão: Ainda que tome um tempo considerável, e também desnecessário, para apresentar o passado dos Eternos, em suas tantas épocas habitando a Terra, há um crescimento contínuo da narrativa. Através de um estabelecimento de empatia com as personagens, uma expansão cuidadosa dos perigos que passam e como as decisões são cada vez mais complexas para elas, a trama consegue causar suspensão e deixar que as cenas de ação se tornem cada vez mais emocionantes. Se no início da projeção não existe um espaço ainda construído para que as batalhas causem este efeito, as viradas dentro do enredo são aproveitadas para elevar as potencialidades das sequências de ação e dos envolvimentos afetivos. Seja a partir do momento que Thena (Angelina Jolie) passa a desenvolver uma doença, que muda seu comportamento ou com a descoberta das verdadeiras intenções de Ikarus (Richard Madden), os roteiristas Chloé Zhao, Patrick Burleigh (Pedro Coelho 2: O Fugitivo) e Ryan Firpo (Tem Years) sabem aproveitar as reviravoltas para aumentar a intensidade das emoções colocadas na tela. Paulatinamente, há mais o que ser perdido ou a ser salvo.
  2. Direção: Há uma reclamação dentro de uma esfera específica de cinéfilos sobre certa dificuldade em se acompanhar longas-metragens deste tipo. Com explosões intensas e lutas velozes, existe um público que acaba não conseguindo criar uma ligação com as histórias trazidas em blockbusters, causando até um tédio pela ausência de equilíbrio rítmico. Neste sentido, Eternos possui um grande louvor. Através de sua decupagem, é possível acompanhar as batalhas com uma proximidade pouco vista. Ainda que com cortes rápidos, existe tempo de tela para que as emoções dos heróis sejam fruídas. Os olhares e gestos das personagens e as relações que elas estabelecem umas com as outras são notadas, pois os enquadramentos privilegiam os sentimentos daquelas figuras e o quanto duram os planos fomentam ainda mais este elemento. O relacionamento de Thena e Gilgamesh (Ma Dong-seok), por exemplo, é amplamente beneficiado por estes instantes de ação, nos quais detalhes são revelados. O jeito como ele segura na mão dela, enquanto eles lutam ou como se olham quando derrotam um Deviante, faz com que, em poucos segundos, o afeto que existe entre eles seja capturado.
  3. Diversidade: Se há algo marcante em Eternos é a diversidade presente nele, principalmente, dentro da narrativa. O grupo de heróis é liderado por Ajak (Salma Hayek), uma mulher latina, de mais de 50 anos. Além disto, dentro dos 8 integrantes dos Eternos há, ainda, Sersi (Gemma Chan), a líder que sucede Ajak é mulher e oriental; Makkari (Lauren Ridloff), mulher, negra e surda; Phastos (Brian Tyree), um homem negro, casado com um muçulmano; Kingo (Kumail Nanjiani) indiano; Gilgamesh, que é coreano e Thena; mulher que revela ser uma das mais fortes de todos os Eternos. Obviamente, as origens citadas são dos intérpretes, pois na história eles vêm da criação de Arishem (David Kaye). Esta listagem não tem a intenção de ser arbitrária. Representatividade não apenas sobre colocar uma personagem distante que se encaixe em algum grupo identitário. O que existe aqui é uma tentativa notável de abrir um espaço concreto para o desenvolvimento da trama de cada uma destas figuras. Isto é algo bastante considerável, visto que Hollywood – assim como a sociedade no geral – é uma indústria extremamente racista, misógina, xenofóbica, homofóbica e que apresentou um sistema totalmente excludente por tantos anos. Entre 1930 e 1968, ficou vigente, nos Estados Unidos, o Código Hays, regras morais que censuravam as produções hollywoodianas, que barrou e atrasou discursos progressistas e diversos dentro do cinema estadunidense. Em um mundo no qual as produções são cheias de Queerbaiting, Whitewashing e representações falhas, Eternos dá um passo, aparentemente, forte para algum avanço neste sentido. Ainda há bastante a ser feito e nem todas estas personagens da narrativa são bem exploradas. No entanto, ao se pensar que este é um produto do UCM com a Disney, que será visto por uma quantidade extensa de pessoas, é preciso se comemorar.

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PONTOS BAIXOS

  1. Demora pra engatar: No início de obras audiovisuais, pode ser costumeiro que se leve um tempo para a apresentação dos ambientes e das épocas nas quais elas se passam, das personagens e de suas relações também. Contudo, o que acontece aqui é uma demora intensa na introdução deste universo ficcional para o espectador. Em idas e vindas espaciais e temporais, torna-se cansativo acompanhar a produção, que parece estar sempre começando, repetidamente. Truncada até sua metade, o cerne da questão é que parece que a equipe sentiu uma necessidade de ambientar excessivamente o público e resta pouco espaço para um aprofundamento de tudo aquilo que está sendo colocado em cena. Dentro das diversas batalhas, conflitos e soluções postos, como conhecer, de fato, os sentimentos e intenções de cada um? São 8 heróis , múltiplas subtramas e inúmeras localizações. Talvez, ainda que todos estes elementos fizessem parte do filme, se as entradas e saídas cronológicas e de locais fossem mais naturalizadas e postas menos grandiosamente, outros fatores poderiam ser explorados.
  2. Falta de aproveitamento das personagens: Ainda pensando sobre o tempo gasto para enaltecer cada locação e época, Eternos acaba por perder a chance de trazer para quem assiste mais espaço para o desenvolvimento das personagens. Dentro deste contexto, o potencial de Makkari é totalmente dispensado, por exemplo, sem que haja uma premissa forte para ela, deixando-a como uma coadjuvante com pouco tempo para ter seus sentimentos e motivações investigados. Já Thena tem seu plot convocado, mas, ao mesmo tempo, ela acaba por ficar plana. Quando ela está em cena, sabe-se em uma medida maior sobre suas ações, porém Thena é um tanto anulada, diante da trama principal. Neste caminho duvidoso, entre trabalhar e não trabalhar os seus conflitos, tudo soa repentino em sua jornada.