Logo de cara, o espectador já é informado de que a família Le Domas não é comum. A abertura de Casamento Sangrento traz um flashback, no qual a índole daquelas pessoas fica bastante clara. Em seguida, o público conhece a mocinha da história, a Grace (Samara Weaving, Três Anúncios Para Um Crime). Vestida de noiva, ela conversa consigo mesma, sobre suas preocupações e ansiedades, enquanto fuma um cigarro. Estes elementos iniciais são de extrema relevância para trama e não são postos a toa. Enquanto a narrativa vai acontecendo, cada vez mais detalhes são revelados.
Este é um ponto positivo sobre este longa. Inicialmente, a progressão em que as práticas dos Domas são reveladas, juntamente com um clima de tensão que não se dispersa, até dado momento de exibição, ajudam a elevar a sensação de suspense, seguido de pânico, o que pode prender o público. Além disto, apesar de haver um prosseguimento na revelação de quem são aquelas figuras, o jogo de introdução de quem elas são é bastante criativo e elucidativo. A decisão de colocar duplas que trocam farpas e dão conselhos antes da cerimônia é uma pista de como será o desenrolar de tudo posteriormente. No entanto, quando todo o esquema está posto e a perseguição da protagonista vai começar parece que todo o fôlego da produção já foi gasta.
Daí em diante, o equilíbrio vai se perdendo e o tom necessário some gradativamente. A começar pela existência de uma comicidade um tanto desacertada na obra. Colocada pelos roteiristas Guy Busick (Urge: Droga Mortal) e R. Christopher Murphy (Castle Rock), ela passa do ponto e vai se transformando em um desperdício de tempo e da chance de criar suspense. O problema não são os traços de comédia em si, mas como eles são utilizados e como acontece uma quebra de expectativa que chega de uma maneira negativa. Isto porque os caminhos acabam não sendo decididos e ainda que gêneros múltiplos possam gerar bons resultados, aqui esta escolha chega confusa.
Outra questão que aparece, também advindo de uma aparente indecisão, é o subaproveitamento de certos plots que não se desenvolvem, ficando apenas na superfície. No princípio, há uma sensação de que a premissa da Tia Helena (Nicky Guadagni) vai ser aprofundada e afetará os rumos do enredo. Assim como a aparição de Becky (Andie MacDowell, Magic Mike XXL) e suas sequências de diálogos com Grace deixam uma pista falsa de que ela se tornará uma peça chave por ali. No entanto, as duas, ao invés de crescerem, vão cada vez mais se planificando e virando um pouco igual a todos que estão por ali.
No resultado final, acaba que a combinação dos textos e ações, com as atuações mirando mais em tipos do que indivíduos (não que isso não possa ser uma estratégia que funcione) deixam tudo muito bobo. O medo e o suspense vão se esvaindo e as tentativas de graça não funcionam, deixando a sessão cada vez menos dinâmica. Contudo, alguns aspectos fazem a sessão valer a pena. A seleção de uma atriz para o papel principal é de fundamental importância, justamente porque o carisma e o talento de uma intérprete podem colaborar intensamente para a qualidade do projeto.
Weaving imprime força para sua criação e consegue mesclar sutileza, doçura, frieza e força. Em um instante ela consegue passar por todas estas emoções e retornar para algum ponto necessário. A sua Grace é a única que não se planifica e vai crescendo enquanto a trama avança. A sua atuação acaba equilibrando a atmosfera histriônica criada em algumas partes, algo que é proposital, claro, mas que deixa quase uma estafa, evitada pelas escolhas cênicas e processuais de Samara. Assim, em termos gerais, Casamento Sangrento acaba sendo uma produção divertida e leve. Sem criar muitas expectativas é possível ter um entretenimento digno.
Direção: Matt Bettinelli-Olpin, Tyler Gillett
Elenco: Samara Weaving, Andie MacDowell, Adam Brody, Mark O’Brien, Henry Czerny,
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