A Fotografia é um romance com dupla faceta. Ao mesmo tempo que o longa dirigido e roteirizado por Stella Meghie (de Tudo e Todas as Coisas e de alguns episódios da série Insecure) procura se desvincular de todo o imaginário hollywoodiano acerca de relacionamentos amorosos, A Fotografia apresenta uma evidente raiz no melodrama e em todos os seus estratagemas narrativos. No entanto, é preciso que fique bem claro, essa mistura de chaves de comunicação aparentemente opostas no lugar de gerar conflitos para a trama traz viço para toda a história.
A Fotografia acompanha o desenrolar do relacionamento entre um jornalista e a curadora de um museu. Eles se conhecem quando ele descobre com uma de suas fontes uma fotografia antiga da mãe dela. Na medida em que o sentimento deles evolui de uma paixão casual para algo mais sério, ela têm contato com alguns segredos do passado da sua mãe e começa a avaliar suas decisões e o peso que coisas como amor, trabalho e segurança têm na sua vida.
A Fotografia é um filme que opera com clichês na medida em que se apoia nessa dinâmica entre passado e futuro com segredos de familiares da sua protagonista que são revelados ao longo da história, utilizando como suporte toda sorte de estratagemas já conhecidos de melodramas, o principal deles, as cartas deixadas como inventário de uma vida por personagens que já se foram. Isso ocorre na relação entre a personagem de Issa Rae e sua mãe. Conforme essa personagem lê as cartas escritas de próprio punho pela sua mãe, ela vai se deparando com questões pessoais e a partir disso o filme constrói um arco de evolução para essa mulher. Questões familiares mal resolvidas, segredos que apesar de suspeitos desde o princípio da história são descobertos por seus protagonistas, encontros e desencontros amorosos. Tudo isso é de praxe nesse tipo de história e A Fotografia não tem muita timidez na articulação desses elementos que aqui se convertem em um elegante “novelão”.
Ao mesmo tempo que flerta com o clichê, o longa de Meghie é extremamente original na maneira como conduz as relações amorosas na sua história, tanto aquela vivida pelos personagens de Issa Rae e Lakeith Stanfield, quanto aquela protagonizada pela mãe da protagonista, interpretada pela ótima Chanté Adams. Mesmo trazendo para a tela toda aquela aura romântica e até excessivamente cafona desse tipo de narrativa, a diretora e roteirista consegue trazer um pouco de “pés no chão” para todas essas tramas amorosas. Ao mesmo tempo em que transborda elas de sentimentos intensos, tudo é muito crível mantendo a aura calorosa típica do encantamento da paixão. Esse equilíbrio é mérito sobretudo do excelente elenco que Meghie conseguiu e da condução da diretora que consegue extrair de talentos como Issa Rae, Lakeith Stanfield, Chanté Adams e Y’lan Noel desempenhos que trabalham a favor dessa orientação.
A Fotografia ainda tem o mérito de trazer para as telas um tipo de representação infelizmente ainda escassa para negros em Hollywood. Ainda é muito difícil ver atores negros protagonizarem romances, sobretudo nas esferas sociais retratadas pelo filme. Essa combinação de elementos bem sucedidos e acertos do ponto de vista da reparação histórica tornam o longa se não memorável, pelo menos um acerto em diversas vias.
Direção: Stella Meghie
Elenco: Issa Rae, Lakeith Stanfield, Chanté Adams, Y’lan Noel, Kelvin Harrison Jr., Lil Rel Howery, Teyonah Parris, Jasmine Cephas Jones, Marsha Stephanie Blake
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