Depois de tanta expectativa construída para o bem ou para o mal, chega aos cinemas a primeira (e última?) incursão da Sony na construção de um universo próprio com vilões do Homem-Aranha a partir de personagens que ainda estão sob os direitos do estúdio. Venom traz para o público o famoso vilão do Homem-Aranha, visto em Homem-Aranha 3 de 2007, interpretado agora por Tom Hardy (Mad Max: Estrada da Fúria e O Regresso), ator cujo empenho em cena parece sempre acima de qualquer suspeita. O projeto sempre foi cercado por muitos receios que incluem a iniciativa de uma aventura solo com um vilão sem o seu principal oponente, a péssima impressão dos materiais de divulgação e as notícias sobre refilmagens, seguidas de uma diminuição da recomendação etária do filme quando a promessa era de muita violência na tela (receio de perder dinheiro num projeto aparentemente fadado ao risco nas bilheterias?).
Já no circuito, o que pode ser dito de Venom é que ele é um filme cheio de problemas sim, o que não significa que seja algo passível de ser classificado como “inassistível” por seu resultado. Venom derrapa em elementos que eram previsíveis, dadas outras incursões semelhantes em épocas passadas – Esquadrão Suicida ou Malévola me vêm na mente como longas protagonizados por vilões que no fim das contas se tornam heróis. No filme, Hardy interpreta o jornalista Eddie Brock, um sujeito que não mede esforços para violar códigos de ética na busca por uma matéria. Na investigação de um caso envolvendo testes científicos em cobaias humanas, Brock acaba hospedando em seu corpo uma forma de vida alienígena chamada Venom que a todo momento entra em conflito com ele no controle das suas ações.
No lugar de investir naquilo que se esperava e no que era a promessa do projeto, a possessão do corpo de Brock pela criatura e o conflito dele com ela, Venom transforma o seu protagonista num autêntico herói (e não antiherói) que salva sua cidade e o mundo de uma criatura ainda mais poderosa, perdendo a oportunidade de conferir uma singularidade ao projeto (afinal de contas, para que fazer um filme com um vilão se você o insere numa clássica estrutura narrativa de longas de super-heróis?). O filme não explora um possível flerte com o cinema de horror, tornando as ações e a aparição de Venom algo completamente genérico. O conflito entre Brock e a criatura é igualmente pedestre e soa estranho. Nos momentos em que esta dinâmica pretende gerar algum efeito de humor, soa completamente indiferente à plateia, e quando deveria ter um tom mais dramático acaba proporcionando risos involuntários.
À espera de algo como O Médico e o Monstro, clássico de Robert Louis Stevenson, o público irá se deparar com um improviso. Venom é um filme protagonizado pelo vilão de um dos personagens mais conhecidos e amados pelos fãs dos quadrinhos, sendo o que restava para a Sony como forma de lucrar em cima desse universo já que o Homem-Aranha está na Marvel Studios num contrato de quatro produções. No entanto, não deixa de ser decepcionante perceber que os realizadores por trás de Venom não pensaram em criar formas de trabalhar com o que tinham, adaptando o material às adversidades e aos desafios de se fazer um filme sem o antagonista central do seu personagem.
Em Venom, a Sony (e não Ruben Fleischer, porque nos casos desses grandes projetos o diretor nunca é o principal culpado) perdeu a oportunidade de fazer um filme que se assumisse como longa de horror. A Sony perdeu também a oportunidade de esgarçar conflitos psicológicos mais densos no duelo de personalidades Brock-Venom e no seu lugar entrega algo completamente superficial e desinteressante. Uma grande perda de tempo para os envolvidos – sobretudo Fleischer e Tom Hardy – e para o público também, que não terá um filme completamente execrável, mas dos mais relaxados.
Assista ao trailer: