Toscana

Crítica: Toscana (Netflix)

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Toscana possui uma premissa que poderia render uma comédia romântica leve, divertida e engraçada. No entanto, existe algo no filme que faz com que ele falhe em ser uma sessão agradável: a pretensão. Mesmo que fosse um título esquecível, ele poderia entreter durante deus 90 minutos de exibição. Todavia, ao invés de optar por simplificar estratégias de direção e roteiro, a produção procura complexificar a obra e não dá conta desta missão.

Um dos principais fatos que incomodam é a decisão por trazer tramas paralelas. A primeira foca nas problemáticas do protagonista, Theo (Anders Matthesen), com seu pai, que acabou de falecer, deixando de herança um restaurante para ele na Itália. A segunda se encaminha para o seu romance com Sophia (Cristiana Dell’Anna), uma jovem italiana, que foi quase criada pelo pai de Theo. As duas histórias se entrelaçam, obviamente, porém dentro destes dos caminhos interligados o caos reina e há uma progressão da perda do controle da narrativa.

Desta maneira, o que acontece é que todos os conflitos, necessidades e profundidades da personagem principal vão se perdendo. A sua forma rude de encarar a vida, sua profissão e o mundo é um ponto de partida que, mesmo sendo clichê, se fosse explorado durante a projeção, poderia funcionar como um arco dramático redondo, no qual as suas novas experiências na Itália o transformariam. Mas, o que o espectador acompanha é a amostra de sua personalidade inicial e pulos na mudança em seu tom.

Existem saltos dentro do roteiro que ficam sem costuras. Seja na saída de Theo da Dinamarca para Itália, que já é abrupta, passando pelo seu envolvimento com Sophia, até a sua confusão entre vender ou não o restaurante herdado. As passagens de emoção dele são repentinas e os coadjuvantes contribuem mais ainda para esta impressão de esvaziamento de construção de atmosfera e desenvolvimento de personagem. Esta característica é mais forte em Sophia, interesse romântico de Theo.

Indecisa e com uma personalidade que vai se dissolvendo durante a exibição, acompanhar a trajetória de Sophia chega a ser um tanto irritante. As razões pelas quais ela vai casar como outro rapaz, seus sonhos e planos de vida e até mesmo a sua decisão final vão ficando a serviço de Theo. Mesmo que no desfecho do longa-metragem ela pareça selecionar o que é melhor para ela, a sua personalidade ganha pouco espaço.

Toscana

Assim, talvez, ela seja colocada como uma pessoa que está sempre esperando uma presença masculina para autorizar os seus passos, seja pelo quase pai adotivo, pelo noivo ou por Theo. Todas estas características ficam meio dissolvidas por ela conter  uma – dentro da ótica masculina branca cis – personalidade forte. O tom de suas falas, no começo do longa, são “desaforados”.

Obviamente, há toda a dinâmica de briga entre ela e Theo. Mas, o chefe de cozinha vai…conquistando a moça (oh, que surpresa) e ela vai ficando cada vez mais doce e indefesa (por essa ninguém esperava, hein?). Para além destas questões, também existe o fato da decupagem de Toscana não parecer muito conectada com a própria proposta narrativa. A direção de Mehdi Avaz (Kollision) deixa duas sensações aqui.

Uma delas é a de que Avaz estava tentando quebrar as quedas rítmicas e as barrigas do filme convocando movimentos de câmera para “levantar” as cenas. A segunda é que estas próprias estratégias do cineasta podem deixar a ideia de que ele estava mais preocupado em mostrar o que ele consegue criar em seu trabalho do que com a história em si. De qualquer forma, as escolhas de Avaz podem afastar ainda mais o público, que talvez se desconecte com o que está sendo mostrado na tela.

Alguns momentos, por exemplo, pediam mais introspecção, silêncio ou pausa, porém seguem o caminho oposto. Por estas razões que Toscana é um tanto desagradável e cansativo. O que salva mais a penosa sessão é a química de Dell’Anna e Matthesen. De resto, é um exemplar dispensável.

Direção: Mehdi Avaz

Elenco: Anders Matthesen, Cristiana Dell’Anna, Lærke Winther.

Assista ao trailer!

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