Crítica: Sicario – Terra de Ninguém

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No comando: Emily Blunt toma a frente de um filme monopolizado por homens e dá conta do recado

 

Desde que foi indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro por Incêndios, o canadense Denis Villeneuve tem colhido frutos interessantes aqui e ali, estabelecendo-se como um realizador de filmografia diversificada e de volumosa repercussão. Do enervante Os Suspeitos, provavelmente um dos melhores longas do gênero suspense nesta década, ao divisivo O Homem Duplicado, adaptação do livro homônimo de José Saramago, Villeneuve tem conseguido se firmar e ser disputado por estúdios, atores e roteiristas de Hollywood. Sicario – Terra de Ninguém é mais um exemplar dessa lista, tendo colhido muitos elogios na última edição do Festival de Cannes e, após a sua recente estreia no circuito comercial norte-americano, começa a ser apontado como um dos títulos com potencial de angariar indicações ao Oscar em 2016. O mais recente longa do realizador canadense tem os seus bons momentos, sim, mas também revela-se como um dos mais mornos exemplares da carreira do diretor.

Em Sicario, uma policial do FBI (Emily Blunt) é escolhida e aceita participar da caçada ao líder de um cartel de drogas do México. A protagonista acaba enredada em uma trama de corrupção e violência que coloca sua rigidez ética à prova, sobretudo quando ela passa a trabalhar com um homem misterioso que parece conhecer como ninguém o funcionamento da guerra do tráfico na América Central.

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Carências: Falta melhor tratamento dos personagens pelo roteiro

 

Fotografado impecavelmente por Roger Deakins – sim, porque, nesse caso, comentar sobre o trabalho de Deakins nunca é uma menção residual a fotografia -, Sicario é um filme tenso do início ao fim e Villeneuve consegue construir toda essa atmosfera de incertezas ao lado do veterano diretor desse departamento. É uma pena que, no caso de Sicario, o espectador fique mais impactado por esse programa de efeitos proporcionado pelo realizador do que pela trama em si, que, por sinal, parece uma versão de A Hora mais Escura porém ambientado na guerra contra o tráfico no México – até as imagens infra-vermelho da Kathryn Bigelow o Denis Villeneuve usa em determinado momento.

Emily Blunt está excelente no longa e é um dos melhores elementos da história. Na pele da agente Kate Macer, Blunt consegue percorrer todos os dilemas éticos e morais pelos quais a policial passa em sua missão no México. O mesmo pode ser dito de Benício Del Toro que tem na impassibilidade do seu olhar um instrumento capaz de dimensionar a dor, a raiva e a obstinação do seu personagem diante do seu grande objetivo. Por fim, Josh Brolin chama pontualmente para si diversos momentos do longa com um personagem repleto de senso de humor, mas de caráter questionável. É verdade que o filme falta com o público e com o próprio elenco por não se aprofundar nos fantasmas dos seus personagens, mas os atores conseguem “dar conta do recado” em todos os momentos em que são solicitados.

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Incertezas: Benicio Del Toro encara dúbio personagem

 

Apesar de encher os olhos do público com excelentes tomadas e uma precisão técnica usual na carreira do diretor, ao final de Sicario as conclusões de Villeneuve sobre sua história são absurdamente “lugar comum”, todas simplificadas ao subtítulo brasileiros do longa: estamos diante de uma terra de ninguém. Seria preciso bem mais do que isso para fazer do filme uma obra que refletisse de fato sobre os problemas que pretende abordar e sobre a natureza dos seus próprios personagens cuja complexidade é alcançada em parte graças ao excelente trabalho do seu trio principal, jamais por esforços de Villeneuve e muito menos do seu roteirista Taylor Sheridan.

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