Rua do Medo: 1978 – Parte 2

Crítica: Rua do Medo: 1978 – Parte 2

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Após os eventos acontecidos na primeira parte de Rua do Medo, o espectador é levado para uma história pregressa, para o ano 1978. A data marca, dentro deste universo ficcional, a chacina acontecida no acampamento de Nightwing. Shadyside é uma cidade marcada por assassinatos trágicos, que ocorrem de geração em geração, desde 1666. Então, dentre as várias épocas selecionadas, por que escolher juntamente retornar para 1978? A resposta inicial para esta pergunta é simples: este é o tempo que mais possuem pessoas vivas na adolescência de Deena (Kiana Madeira) e que podem ajudar a resolver o seu conflito central.

Como fora visto em 1994, foi nos final dos anos 1970, que uma única pessoa sobreviveu: C. Berman (Gillian Jacobs). Ela é a aparente chave para Deena, protagonista do longa-metragem anterior, que vai começar a juntar as peças para desvendar o mistério Sarah Fier, bruxa que amaldiçoou o local onde ela mora. Ainda que a continuação da trilogia possua alguns dos mesmos incômodos de seu anterior – como o exagero da serialização, desconectando-o de uma linguagem própria cinematográfica, por assim dizer –, alguns avanços são alcançados aqui.

A começar pela ambientação temporal. Mesmo não buscando um retrato tão fiel dos anos 1970, Rua do Medo: 1978 – Parte 2 vai além das canções e propõe uma atmosfera das obras de terror setentistas. Com uma coragem mais intensa em apostar no gore, é possível notar referências em sua estilística, como O Massacre da Serra Elétrica (1974), Carrie – A estranha (1976) e Halloween (1978). Os elementos do slasher continuam aqui também: a presença da final girl, a morte com dilaceração, um assassino mascarado que carrega uma faca etc. Leigh Janiak demonstra um desejo de celebração do gênero através destas marcas de estilo.

Rua do Medo: 1978 – Parte 2

Contudo, o mais curioso de observar aqui é a tentativa genuína de avançar em algumas perspectivas costumeiras do subgênero, indo para além dos clássicos e subvertendo a lógica presente neles. Durante toda a projeção, o público é levado a pensar que C. Berman é Cindy (Emily Rudd), irmã de Ziggy (Sadie Sink). No entanto, não é isto que ocorre no enredo. Com um plot twist, já no final da sessão, quem assiste é pego de surpresa. A partir de estratégias como esta, a atmosfera de tensão é fomentada, quebrando certa barreira dos limites de que vai surgir na tela e de quem vai  ser o próximo morto. Desta forma, o roteiro apresenta soluções e encaminhamentos que o deixam divertido e menos óbvio .

Além disto, ainda que a aposta em Rua do Medo: 1978 – Parte 2 seja trazer um filme mais gráfico, que investe também em uma quantidade superior de jump scares, há espaço para a construção das relações. Enquanto o clima do acampamento passa de solar e de cores quentes para sombrio, com sangue espalhado por todo canto, a trama trabalha o envolvimento de Ziggy com o morador de Sunnyside, Nick Goode (Brandon Spink) – que, em 1994, é visto como delegado. A parceria da dupla possui organicidade e uma delicadeza de uma paixão juvenil.

A maneira como a relação do casal é imbricada com a narrativa geral também chama atenção. Entre as distrações das emoções, aparentemente, genuínas entre eles, alguns mistérios são dissolvidos ou expandidos a partir da interação dos dois. Ao mesmo tempo, Ziggy e a irmã Cindy também ganham terreno para transformar o relacionamento delas e, ainda, impulsionar as motivações futuras de Ziggy, impactando no resultado direto da premissa e desenlace de 1666, terceira parte de Rua do Medo. Por fim, 1978 consegue escapar de um perigo que poderia ser esperado aqui.

Com novas personagens e contextos sendo postos, mas com a missão de dar continuidade ao conteúdo total da trilogia, o longa não cai em uma confusão provável de aparecer quando há muito para se contar e resolver. Em menos de duas horas, Rua do Medo: 1978 – Parte 2 dá conta de imprimir uma ambientação própria, evocar o problema da vez e não perder de vista o todo. A única questão que fica no meio do caminho é esta necessidade de ser um seriado, com previously e cliffhanger, algo que destoa do seu formato dentro do audiovisual, porém que aqui não compromete a qualidade geral. Ainda assim, ele ganharia mais como um material unitário, sem as interrupções que fazem recordar a todo instante que se trata de uma produção aberta, que ainda não foi finalizada, reduzindo ela a uma simples meiota.

Direção: Leigh Janiak

Elenco: Sadie Sink, Emily Rudd, Kiana Madeira

Assista ao trailer!

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