Paradise Beach

Crítica: Paradise Beach

Falar de Paradise Beach, o novo lançamento da Netflix, exige cuidados. É impossível desvencilhar um filme de seu conteúdo e fazer uma crítica robótica, despersonalizada, isenta e sem alma. Dito isso, é necessário dizer que, a visão que o diretor francês Xavier Durringer (La conquête) possui sobre a premissa de sua obra é bastante indigesta. Para que os leitores entendam melhor, vamos para a sinopse.

Após passar quinze anos na cadeia por um assalto milionário, Mehdi (Sami Bouajila, Nova York Sitiada), francês de descendência árabe, vai para a Tailândia. Afinal, é lá que seu irmão e os outros participantes do roubo vivem uma rotina luxuosa como donos de bares e casas de prostituição, após terem escapado da polícia. Assim, os problemas começam a surgir quando o ex-presidiário começa a cobrar sua parte da grana e os ladrões afirmam que eles gastaram. Além dos problemas internos, uma guerra com uma gangue rival (de negros) está prestes a estourar.

Ainda que a intenção de Durringer tenha sido outra, torna-se bastante problemática a mensagem que Paradise Beach passa. Negros e descendentes de árabes — ou seja, os imigrantes — trouxeram o caos e o terror para uma imaculada Tailândia. Isso não é algo que está apenas no roteiro, mas também nas escolhas estéticas do diretor.

Quando filma as casas de prostituição comandadas pelo grupo, ele opta por um neon glamourizado e sujo que tenta emular o que Harmony Koryne fez em Spring Breakers (2013). Por outro lado, há esse intenso contraste com um paisagismo de praias limpas e claras da Tailândia. Em uma cena chave do longa, está acontecendo um festival de rua e as pessoas dançam e brincam com arminhas de água. Todavia, o dia alegre vira um massacre quando as duas gangues começam a se enfrentar.

Paradise Beach

Tudo isso leva a uma incompatibilidade entre roteiro e direção, que nunca parecem em sintonia. É um texto que constantemente leva a crer que está criticando os caminhos da violência, mas a maneira como ela é filmada, quase como um ritual e em câmera lenta, soa como um fetichismo.

Para além desta problemática, Paradise Beach possui uma outra camada. Propositalmente confuso em seu final, até que existe uma louvável intenção de querer retratar o ordenamento caótico por trás da violência e da ganância. Por meio de sugestivos plot twists, a paranoia e a traição tomam conta dos personagens. O problema é que, ainda que a intenção não fosse deixar tudo claro para o espectador, a execução nunca consegue alcançar a experiência sensorial de perseguição que tenta passar.

Por fim, Paradise Beach também reduz toda a complexidade de um país como a Tailândia para transformá-la em um palco de violência. Não que o objetivo do filme seja explorar a cultura do país, mas todos os estereótipos estão presentes aqui. Desde as praias paradisíacas e as prostitutas até menções ao tsunami e uma polícia corrupta.

Diretor: Xavier Durringer

Elenco: Sami Bouajila, Tewfik Jallab, Mélanie Doutey, Hugo Becker, Kool Shen, Hubert Koundé, Seth Gueko, Flore Bonaventura

Assista ao trailer!

Confira o longa Paradise Beach diretamente na Netflix!