Crítica: Olmo e a Gaivota

207386
Relato pessoal: Os atores Olivia Corsini e Serge Nicolaï compartilham com as diretoras de Olmo e a Gaivota as emoções de serem pais pela primeira vez

Em 2012, a diretora brasileira Petra Costa causou uma comoção no circuito cinematográfico a partir da exibição de Elena, filme no qual a realizadora narrava a melancólica jornada de sua irmã que partiu para Nova York em busca da realização do sonho de ser atriz. O filme era um relato emotivo de Petra que baseava-se em memórias de infância e confissões atuais dimensionando para o espectador a relação das irmãs e o trauma que o repentino desaparecimento de Elena gerou na família. Em Olmo e a Gaivota a diretora retorna a esgarçar as fronteiras entre o real e a ficção através de relatos íntimos de profunda carga emocional ao contar a história de uma atriz que vivencia todo o complexo processo da gravidez pela primeira vez.

Em Olmo e a Gaivota, Petra Costa e sua parceira de direção Lea Glob contam a história de Olivia, uma atriz que está ensaiando uma montagem da peça A Gaivota, de Tchekov, e acaba descobrindo durante o processo que está grávida do seu primeiro filho. Olivia interrompe os ensaios para conseguir levar a gestação adiante já que após uma descoberta na ultrassonografia a gravidez passa a requerer cuidados. À medida que o tempo passa e Olivia começa a ser obrigada a ficar em repouso ela passa a refletir sobre a responsabilidade da maternidade e a conciliação entre as funções de mãe e atriz no futuro próximo.

20151010-omlo-e-a-gaivota-papo-de-cinema-02
Futuro: Conciliação da maternidade com a vida nos palcos passa a ser um dos principais fantasmas da protagonista

Com a ajuda de Olivia Corsini e Serge Nicolaï, Costa e Glob costuram confissões pessoais que se entrelaça com o próprio momento da vida dos seus atores. Em determinado momento de Olmo e a Gaivota, a realidade dos personagens e dos atores se encontram e existe a consciência de que aquele relato é uma espécie de “documentário emocional” sobre as angústias dos novos pais, há inclusive a interferência das realizadoras na construção da narrativa ficcional de maneira escancarada para os espectadores (em certas passagens, acompanhamos as orientações de Costa e Glob a Corsini e Nicolaï na composição de algumas cenas). Esta mistura de realidade e ficção, de relato documental e expressão afetiva que foi tão presente em Elena, se repete em Olmo e a Gaivota de maneira igualmente íntima e universal. O filme de Petra Costa e Lea Glob trata de dilemas e emoções comuns a qualquer sujeito de carne-e-osso.

Menos expositivo para a realizadora brasileira que Elena, Olmo e a Gaivota não deixa de trazer a coragem de Olivia Corsini ao colaborar com as diretoras do projeto em questão em uma narração sincera dos meandros íntimos da gravidez e da criação artística. Costa e Glob extraem da atriz o máximo que podem e independente do fato de que nem tudo que ocorre na tela é ipsis litteris a vida de Olivia e Serge, existe uma exposição emocional à carne viva que desnuda por completo dos dois atores para o espectador.