O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno de Leatherface

Crítica: O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno de Leatherface (Netflix)

0.5

Por onde começar a escrita quando se é necessário falar sobre um filme tão genérico quanto O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno de Leatherface, ausente de criatividade, que beira ao “qualquer coisa”? É difícil pensar qualquer tipo de a abordagem para tratar sobre o novo longa-metragem de terror da Netflix, sobretudo quando este tem como vilão uma das personagens mais icônicas de seu gênero e é um dos slashers mais famosos dos Estados Unidos, de todos os tempos.

Apesar de a franquia ter contado com um desgaste, vindo de seus oito títulos anteriores, talvez, com a chegada de uma nova versão e a promessa do regresso de Leatherface (Mark Burnham) as expectativas tenham subido um pouco. Todavia, a produção não garante o mínimo, o que poderia ser uma premissa instigante, uma boa direção, mocinhas, mocinhos ou mocinhes carismáticos ou, ainda, jogar tudo para cima e contar apenas com sustos elaborados.

Contudo, o espectador se depara com um filme morno. Esta característica se dá, principalmente, pela narrativa ser dispersa. Há, inicialmente, o plot que é focado em um grupo de amigues que decide ir para Harlow, uma cidade abandonada, para montar um novo negócio. Chegando lá, obviamente, Leatherface começa a atacar e matar qualquer pessoa que vê pela frente, sem um critério ou seleção.

Para além do fato de que o assassino não possui contorno algum e é só uma figura qualquer com uma serra na mão, o roteiro não consegue dar conta de explorar as dinâmicas do quarteto, trabalhando somente um pouco da personalidade da protagonista, Lila (Elsie Fisher) – pelo menos é ela quem parecer ser o destaque dentro da trama. Alguns de seus medos e conflitos são debatidos, ainda que brevemente, mas já fazem com que o público possa criar certa ligação, se importe com ela e torça por sua vida durante a exibição.

Já os outros que a cercam, além de serem planos e sem desenvolvimento, eles acabam sendo chatos e antipáticos. E o problema vem do texto, que esvazia as motivações de quem é coadjuvante, o que acaba por deixar essa sensação de que elus são apenas desagradáveis, por serem planificados.  Os intérpretes parecem tentar imprimir nuance para seus papéis, principalmente Sarah Yarkin, como Melody, e Jacob Latimore, como Dante, mas não têm para onde ir.

O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno de Leatherface

Para complicar a situação da produção, o roteirista Chris Thomas Devlin decidiu seguir um caminho semelhante ao de Halloween (2018) e convocar a sobrevivente de seu primeiro longa: Sally Hardesty (agora interpretada por Olwen Fouéré). No entanto, não há espaço dentro do enredo para que Sally seja trabalhada, se transformando em uma figura aleatória, porque a sua trajetória não ganha tempo para ser investigada. Todas as movimentações de Sally são artificiais, fazendo com que ela complete este núcleo dos sem camadas exploradas.

A partir deste contexto, que só desanda minuto por minuto, é árdua a missão de terminar esta sessão. Não existe caminho para que seja estabelecida alguma tensão ou medo. Porque, além dos motivos já citados, nem ao menos as cenas isoladamente alcançam o objetivo de evocar suspense ou uma atmosfera de temor. Pelo contrário, Leatherface espirra sangue na tela, as sequências com violência gráfica chegam, mas elas acontecem de uma forma quebradiça, pois os cortes aqui são anticlimáticos.

Já a direção de O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno de Leatherface é tímida, porém talvez seja o que há de melhor neste panorama de baixa qualidade. Com alguns instantes mais inspirados, David Blue Garcia (Tejano) garante dois momentos destacáveis. O primeiro é o encontro de Leatherface com Dante. Com um Dolly Zoom, juntamente com o ataque visto em pedaços, com o abrir e fechar da porta da cozinha, aqui sensações e emoções são transmitidas, ainda que brevemente. A segunda se trata de toda a sequência dentro do ônibus, no início do terceiro ato.

Garcia, ao lado do seu diretor de fotografia, Ricardo Diaz (Coração Violento), transmite toda claustrofobia e desespero necessários para este clímax, porque aqui, diferentemente dos momentos anteriores, quem assiste acompanha todo o pânico dos visitantes de Harlow, o pavor das irmãs Melody e Lila e, finalmente, Leatherface para de cambalear tontamente.  Isto é fruto também da mise-en-scène, que dentro de todo caos que a sequência convoca, tem a sua geografia articulada, sem deixar que o público se perca, porém que se sinta impactado.

Além disso, a escolha dos enquadramentos e de iluminação fazem com que, pela primeira vez no longa, o sangue escorrendo pela tela tenha efeito, imprimindo a iminência do perigo para personagens centrais da história. Desta forma, O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno de Leatherface tem um resultado geral bastante negativo. Ele é tudo que o não se espera de uma obra de terror: é entediante.

Direção: David Blue Garcia

Elenco: Sarah Yarkin, Elsie Fisher, Mark Burnham

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