O Exorcista: O Devoto (2023)
Lidya Jewett e Olivia O’Neill em cena de 'O Exorcista: O Devoto' (2023) - Foto: Divulgação

Crítica: O Exorcista: O Devoto

Crítica: O Exorcista: O Devoto
2.4

Outubro é o mesmo do terror. A tradição estadunidense do dia das bruxas se espalhou mundo à fora e estabeleceu esse contexto de lançamentos majoritários (ou principais) do gênero ao longo do mês do Halloween. Com isso, os fãs aguardam ansiosos pelas principais promessas anuais dessa safra. No caso de 2023, o filme mais aguardado foi a continuação direta de O Exorcista (1973). Ainda que seja o sexto longa-metragem da franquia, O Exorcista: O Devoto, que estreia nesta quinta-feira (12), funciona como uma sequência ao projeto original, lançado há 50 anos. A expectativa com um requel (sequência do longa original que apaga capítulos posteriores ao primeiro) de uma das mais célebres histórias do universo literário e cinematográfico do horror/terror foi altíssima. Sua queda, no entanto, também será.

O Exorcista: O Devoto é uma produção mesquinha. Está no hall daqueles projetos que se percebe a clara ganância de quem produziu. Não é sobre contar uma nova história ou assustar o público, aqui o discurso que comanda é o lucro, único e exclusivamente. Dentro de uma lógica de trilogia, o primeiro capítulo é uma cópia fracassada do longa seminal de William Friedkin. Não existe apego aos personagens como no original. A atmosfera de horror e desespero não chega nem perto da construída em 1973. E, para taxar ainda mais a produção como uma aproveitadora de fãs, a participação da ‘personagem-legado’ é curta, esquecível e sem emoção.

Mais uma vez o diretor e roteirista David Gordon Green (Halloween Ends, de 2022) conseguiu tornar irrelevante uma das maiores franquias de terror. Assim como ele fez com o segundo e terceiro capítulo de sua trilogia Halloween (2018-2022), em O Exorcista: O Devoto, os acontecimentos são renegados a mimese do que se espera de uma produção sobre possessão. A estrutura da narrativa criada por Gordon Green e Peter Sattler é frágil e soa como qualquer coisa. Parece que é apenas mais uma repetição de um subgênero que um dia deu certo. Não há surpresa. Não existe espaço para emoção. Não tem sequer um resquício de sentimento de pertencimento ao universo criado pelo longa original.

O Exorcista: O Devoto (2023)
Ellen Burstyn e Leslie Odom Jr. em cena de ‘O Exorcista: O Devoto’ (2023) – Foto: Divulgação

O problema da produção que tem sido comentado e atacado pela crítica é justamente essa desconexão com o sentimento gerado pelo filme de 1973. Essa falta de unidade, de força e de cuidado é a maior falha do projeto – falha essa que pode fazer com que a trilogia tenha sua vida encurtada. O Exorcista: O Devoto não é, no entanto, um filme de terror ruim. Ele tem uma condução correta, uma montagem dentro dos moldes esperados e cenas que possivelmente irão assustar os mais desavisados. A lacuna presente no longa é a inventividade – ou até mesmo, a já comentada, sensação de similaridade. Em Halloween (2018), Gordon Green foi capaz de reconstituir e se aproximar, de forma surpreendentemente fiel, da atmosfera criada por John Carpenter. Aqui, contudo, ele não chegou nem perto do que Friedkin criou.

Dessa forma, o texto do longa não inspira, aterroriza ou choca como o original. Criatividade não está presente na produção e, muito menos, originalidade. Para tristeza dos fãs da franquia, O Exorcista: O Devoto é um filme genérico de possessão. Está longe de ser o pior de todos, mas também não chega perto de nenhum dos que se preocuparam em tentar ir além do óbvio. E, quando se fala de uma produção que envolve fãs de décadas e um clássico do gênero, a resposta não tem como ser imparcial. A paixão pelo filme de terror favorito vai falar mais alto e é por isso que as respostas estão sendo majoritariamente duras ao filme. Se esperou demais do novo capítulo e a decepção é grande pela pobreza do resultado.

Ainda que as atuações sejam boas, não há sustentação para justificar a continuidade na história iniciada por Friedkin há cinco décadas. Halloween, ainda que tivesse seus problemas, continha um argumento natural: a presença de Michael Myers. Aqui não se tem essa figura que reforça a continuidade. Pazuzu não é citado sequer uma vez. Os personagens sofrem os horrores e traumas da possessão, mas não parece existir motivo aparente para seguir nessa história. O diretor e a Blumhouse vão, no entanto, nos forçar a ver por, pelo menos, mais um filme, a destruição do que é até hoje um dos maiores acontecimentos do cinema de horror. Basta esperar para ver se O Exorcista: O Devoto vai ter ou não ter bilheteria suficiente para sustentar comercialmente mais duas sequências ou se o público vai se ver livre do terror que é David Gordon Green destruindo mais um favorito do gênero.

 

Direção: David Gordon Green

Elenco: Leslie Odom Jr., Lidya Jewett, Olivia O’Neill, Jennifer Nettles, Norbert Leo Butz, Ann Dowd e Ellen Burstyn

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