Com base nos casos macabros acontecidos em Malasaña, bairro espanhol, localizado em Madri, o longa-metragem O 3º Andar – Terror na Rua Malasaña busca criar uma atmosfera progressiva de tensão, na qual há uma buscar para mostrar elementos revelados para o espectador de maneira lenta e gradual. A tentativa aqui parece ser a de colocar este edifício sombrio como ponto de partida para estabelecer o medo e o perigo que circundam os novos moradores de um apartamento assombrado.
No entanto, o que se pode notar, ao olhar para a obra como um todo, é um desequilíbrio rítmico vindo do próprio roteiro – escrito por Ramón Campos (Alto Mar) e Gema Neira (Velvet), o que faz com que o efeito principal procurado não seja atingido. Ao pôr em cenas momentos intensos de pânico logo no início da projeção, o desenvolvimento é comprometido, porque antes mesmo de se compreender as vivências pregressas da família que se encontra nesta nova residência ou dos mistérios do próprio lugar em que eles estão morando, as situações de terror já aparecem continuamente.
Desta maneira, há pouco respiro para o público na primeira metade da exibição. A partir do segundo ato, as estratégias vão se esgotando, resultando em uma queda qualitativa, no geral, principalmente no quesito de suspense e pavor. Além disso, outro elemento que pode elevar esta sensação são os subplots que surgem, teoricamente, para fomentar a história principal, mas que, com soluções imediatas, esvaziam o seu objetivo de fortificar seu enredo. Dentro deste contexto, também há um incômodo no que se refere às metáforas utilizadas para falar da figura que amedronta o edifício número 32. (Alerta de Spoiler!).
Devido ao fato desta mulher que aterroriza o prédio ser transexual e ter passado por muitos sofrimentos pesados quando estava em vida, sua aparência residual é apresentada em formas que buscam colocá-la em um lugar não humano. Isto a leva para este lugar conectado ao grotesco, o que pode ser muito delicado, visto que as pessoas trans são vistas e tratadas de forma bastante equivocada e violenta por uma parte considerável da sociedade. Fazendo parte da população cis, o que posso apontar é a necessidade do cinema de colocar estes corpos – e de toda a comunidade LGBTQIA+, evidentemente – em espaços não marginalizados, trazendo outras perspectivas.
Talvez, um espírito maligno de um homem branco cis heterossexual e uma mocinha ser a mulher trans, por exemplo, já fosse um avanço. Já passou do momento de serem repensados os enredos, as premissas e os desfechos de produções artísticas e culturais, principalmente quando se fala em produtos midiáticos, pois estes possuem um largo alcance. Contudo, o que se encontra em O 3º andar são alguns arquétipos e clichês – pai rígido, mãe preocupada e sonhadora, filhos adolescentes rebeldes para sua época (década de 1970) e a criança geek e indefesa, que fará alguma bobagem – que deixam a produção um tanto mais previsível.
Dois elementos que quebram um pouco da experiência negativa são montagem e trilha sonora. A precisão dos cortes e os raccords bem calculados aumentam a potência do tom bizarro da maioria das sequências. As músicas e sonoridades, também contribuem para essa dimensão de estranhamento e terror. Entre rangidos, grunhidos e canções tocadas na vitrola, alguns sustos se tornam inesperados, garantindo alguns instantes mais prazerosos, para quem gosta do gênero e de se surpreender com jumpscares. No entanto, em sua totalidade, o filme não possui um resultado positivo. Entre uma ausência de distribuição efetiva de informação e manejo da progressão, O 3º Andar – Terror na Rua Malasaña somente vale por algumas cenas bem específicas, graças à parte da equipe de pós-produção.
Direção: Albert Pintó
Elenco: Begoña Vargas, Beatriz Segura, Iván Marcos
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