Responsável por A Rede Social e Garota Exemplar, o diretor David Fincher retorna às telonas depois de um período focado na ótima série Mindhunter, também da Netflix. A parceria de peso do cineasta com o estúdio rendeu Mank, uma produção intimista e diferenciada que aborda a trajetória do roteirista Herman J. Mankiewicz na criação da obra-prima icônica de Orson Welles, Cidadão Kane (1941).
Em preto e branco, o filme é uma reverência cuidadosa à Era de Ouro de Hollywood, mesmo que não deixe de pontuar questões importantes a serem debatidas sobre os comportamentos da época. A ambientação é o que faz o espectador se inserir por completo nesta história que passeia por várias temáticas e personas, se aprofundando o necessário, sem cair no erro do excesso.
Os personagens são bem trabalhados nas suas personalidades, ampliando o círculo de protagonismo e permitindo a todos uma inserção real na história. A atuação de Gary Oldman (O Destino de uma Nação) é absolutamente impecável e digna de sua indicação a premiações. Ele intensifica o duplo lado de Mank: o alcoólatra que é sempre demitido e negligencia o trabalho em paralelo com o homem preocupado que salvou a vida de dezenas de alemães, que fugiam da Segunda Guerra Mundial.
Amanda Seyfried (Mamma Mia! Lá Vamos Nós de Novo) vive Marion Davies, atriz que teve importante papel na construção do roteiro de Cidadão Kane. Ela protagoniza pontuais e importantes momentos no longa, o que lhe rendeu a sua primeira e merecida indicação ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante.
Ser pretensioso é um dos maiores problemas de Mank. O espectador mais atento consegue perceber constantemente que Fincher tinha a intenção de criar algo grandioso, uma obra-prima, um filme memorável. E por mais que no fundo saibamos que essa é a intenção da maioria dos cineastas com produções importantes, perceber isso em cena é problemático. É como se o diretor estivesse o tempo todo dizendo: “Olha como eu sou excelente, olha como essa construção é impecável”. Falta sutileza na direção.
Ainda assim, David Fincher apresenta um dos melhores trabalhos de sua carreira. Este roteiro foi criado em parceria com o pai dele, Jack Fincher, e levou anos sendo maturado e lapidado, até finalmente chegar às telonas. Esse cuidado de aparar as arestas é perceptível, já que não vemos excessos no longa. Ele caminha ligando todos os elementos e apresentando ao espectador os detalhes necessários da história.
Mank é um ótimo filme que merece todas as indicações que recebeu no Oscar 2021. No entanto, arrisco dizer que, mesmo liderando em número de indicações, ele não será o favorito para levar estatuetas. Não por não ter a qualidade necessária, mas por não ser tão apelativo como outros concorrentes.
Direção: David Fincher
Elenco: Gary Oldman, Amanda Seyfried, Lily Collins, Tom Pelphrey, Arliss Howard, Joseph Cross, Tuppence Middleton, Tom Burke
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