Maligno

Crítica: Maligno

4.5

Com temperaturas oscilantes, reviravoltas e uma misteriosa figura assustadora, Maligno é um filme que se baseia, majoritariamente, em surpresas. Desde as suas transições de gêneros cinematográficos – começando com o terror sobrenatural, passando pelo policial, até chegar ao body horror –, nas revelações sobre a vida de Madison (Anabelle Wallis), a protagonista, e no uso da câmera, acompanhar a exibição é se surpreender a cada minuto e a direção inventiva de James Wan (Aquaman) faz com que a obra cresça, seja corajosa e dinâmica.

Isto porque através dos enquadramentos e movimentos selecionados por Wan – que também escreveu o roteiro de Maligno, ao lado de Ingrid Bisu (Super Yolo Show) e Akela Cooper (Parque do Inferno), – constrói-se uma atmosfera de tensão e o inesperado surge. Há um constante jogo realizado para dar susto e causar medo em momentos que fogem de uma lógica convencional, como na cena na qual a parte de baixo da cama é filmada, mas a vítima não tem os pés puxados ou qualquer coisa do tipo. Pelo contrário, o ataque vem de outro lugar, deixando que o tensionamento seja constante.

Assim, o diretor consegue provocar estas sensações que idealizou e trazê-las quando quer e não quando o público espera. Este fator acaba por também equilibrar, de certa maneira, algumas obviedades presentes na história. Não é um longa-metragem em si previsível, no geral, mas que carrega consigo elementos narrativos fáceis de compreender de cara. Talvez, a intenção não fosse deixar turvo para quem assiste, porém certas demoras em comunicar pontos centrais da trama, acabam por reduzir um pouco de seu impacto. Não compromete o resultado total, longe disso, mas deixa o final da sessão um tanto menos empolgante, por assim dizer.

De todo modo, existe toda uma gama de questões positivas que reduzem os perigos do fracasso pelas entregas fáceis do próprio enredo – como é o caso da descoberta de quem é a mãe biológica de Madison. As referências ao cinema de horror, por exemplo, como O Bebê de Rosemary (1968) e Possession (1981), e à própria filmografia de Wan, como Jogos Mortais (2004), Sobrenatural (2010) e Invocação do Mal (2013) revelam a consciência que James Wan de suas próprias intenções, como ele sabe que os efeitos que suas produções causam e como convocar escolhas semelhantes para provocar o que ele já sabe que funcionou anteriormente.

Maligno

Há um arcabouço imagético sendo posto para fora e de maneira ordenada, que casa com ambientação e construção do universo ficcional de Maligno. Além disto, esta estratégia provoca um reconhecimento das marcas de estilo do gênero, que eleva os significados de cada sequência para os amantes do terror. São quase como pequenos easter eggs em cada take, o que deixa quem acompanha a projeção ansioso para a próxima cena. O auge do detalhe talvez seja no plano holandês da frente da casa de Madison, que remete diretamente ao primeiro Invocação do Mal. São nestes preciosismos que é possível notar o requinte da direção de James Wan.

Contudo, a qualidade de Maligno também reside em outras searas técnicas, como a fotografia de Michael Burgess (Logan), que transmite toda a complexidade de Madison e sua estranha relação com Gabriel. Iluminando mais uma metade do ecrã e menos a outra, a lógica da dualidade deles é posta em signos. A seleção de cores, que vêm e vão e se mesclam – sendo elas verde, vermelho e azul –, também cria sentido e explica muito das ações da dupla, dos domínios e controles que são efetuados entre eles e se o que estar por vir de assustador ou não dentro do longa.

Por fim, também é possível salientar que os trabalhos das atrizes Anabelle Wallis e Maddie Hasson (Noviciado) são um fomento a todo o discurso visual e textual de Maligno. A contracena funciona na troca de olhares entre elas, nas aproximações e nos distanciamentos físicos. As intérpretes também demonstram a compreensão de quem são aquelas figuras e como elas devem dosar quem irá se revelar mais frágil ou forte em cada sequência. Wallis e Hasson intercala quem imprime pavor e quem passa segurança, deixando a impressão da irmandade entre elas mais intensa e transmitindo as emoções de seus papéis com organicidade.

Desta maneira, o que é apresentado aqui é um terror coeso, com um time, aparentemente, afinado na tela e nos bastidores. Ele pode pecar por ser óbvio em algumas partes ou até mesmo pelo seu desfecho ingênuo, que quase passa uma ideia de possível chance de continuação ou criação de franquia – medo! –, mas, ele conta o que quer com bastante destreza. Maligno possui uma direção expressiva – destaque para o Zenital na corrida de Madison, no primeiro ato – e, talvez, seja o melhor projeto de James Wan, até agora, e um dos melhores lançamentos do ano.

Direção: James Wan

Elenco: Anabelle Wallis, Maddie Hasson, Michole Briana White

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