Larissa Manoela vem de uma trajetória de sucesso dentro da Netflix. Com Modo Avião e Diários de Intercâmbio o público teve a possibilidade de se divertir com comédias românticas despretensiosas e leves. Agora, com Lulli, a situação é um pouco distinta. Com um tom um pouco mais sério dentro da história, ainda que conte com elementos cômicos, o filme procura investigar relações humanas e trazer uma jornada de heroína com descobertas profundas.
No entanto, é justamente nesta busca por mostrar um crescimento dentro da vida de sua protagonista, Lulli (Larissa Manoela), e das mudanças sofridas em suas relações com familiares, amigos etc é que o longa-metragem falha. O roteiro de Thalita Rebouças (Fala Sério, Mãe) e Renato Fagundes (Vai Que Cola) peca por selecionar saídas fáceis e há um desequilíbrio na progressão dos acontecimentos, bem como na instalação de atmosfera.
Desde os seus minutos iniciais, a obra pesa nos acontecimentos. Além de muitos conflitos intensos serem estabelecidos antes das personagens serem conhecidas e/ou exploradas, o espectador não consegue se ambientar naquele universo. Não há também qualquer outro tipo de estratégia que crie uma construção de universo ficcional. Com tantos elementos postos, em tão pouco tempo de projeção, as peripécias e problemáticas perdem seu impacto e não existe espaço para a trama crescer.
Com estes elementos observados, talvez, uma saída neste contexto fosse escolher quais as dinâmicas interpessoais de Lulli seriam trabalhadas. No entanto, aqui se erra, mais uma vez, pela quantidade ser mais forte que a qualidade. O próprio dilema central fica dissolvido diante de tanto subplot, ainda que haja um potencial em cada um deles, todos ficam soltos e sem condução. Dois exemplos são: os rumos da profissão de Lulli e os entraves do seu namoro com Diego (Vinícius Redd).
Inclusive, a premissa basilar do longa, que trata sobre como Lulli passou a escutar os pensamentos das pessoas, depois de um acidente no estágio, fica completamente deixada de lado. Ainda que este acontecimento não fosse o grande foco, o restante deveria funcionar, mas aqui tudo ganha a mesma quantidade de espaço, deixando com que as coisas fiquem rasas e precipitadas. Nada convence ali, inclusive a atriz principal.
Larissa Manoela não consegue transmitir a maturidade que a personagem precisa. Mesmo possuindo carisma e um talento forte para deixar seu texto orgânico, falta um pouco de experiência da intérprete. Para evitar esta falta de veracidade etária, poderiam ter escolhido alguém mais velho para o papel ou ter feito uma preparação de elenco que focasse em imprimir de forma crível os traços necessários de uma mulher universitária, já em período de estágio na faculdade de medicina.
Nesta dinâmica com pouca complexidade e investigação dentro da narrativa, o que salva o resultado geral de ser um fracasso completo é o humor. Apesar das piadas não serem das mais inventivas, a obra cumpre mais o que se busca nela quando as cenas engraçadas são convocadas, principalmente quando Larissa está ao lado dos seus colegas Amanda de Godoi (O Último Virgem) e Sergio Malheiros (Cinderela Pop).
A amizade do trio soa bastante genuína e os três conseguem jogar em cena. As sequências nas quais eles estão juntos, sozinhos, elevam a qualidade da produção. Seja por conseguirem deixar as falas menos artificiais, pelas seleções de como irão se aproximar ou se distanciar um dos outros ou pela troca de olhares entre eles funcionar, o enredo cresce e fica mais aproveitável. Por isso, o resultado de Lulli fica um tanto tolerável, em alguma medida, mas é uma sessão difícil de terminar.
Direção: César Rodriguez
Elenco: Larissa Manoela, Amanda de Godoi, Sergio Malheiros, Yara Charry, Vinícius Redd
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