Diários de Intercâmbio

Crítica: Diários de Intercâmbio

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Uma típica comédia romântica estadunidense…Ops, brasileira, Diários de Intercâmbio poderia facilmente ser uma típica produção Hallmark Channel, dos Estados Unidos. Cumprindo os requisitos completos de seu gênero – confusões amorosas, atrapalhações, briga com melhor amiga, alto descoberta a partir da realização de um sonho da vida inteira etc – o filme não é exatamente ruim, porém também é um daqueles títulos que são facilmente esquecidos após o final da sessão.

Mas, o que há de bom aqui? A construção da relação entre a protagonista Barbara (Larissa Manoela) e Taila (Thalita Lopes) é um dos pontos altos do longa-metragem. A dinâmica de contracena da dupla fomenta mais ainda a credibilidade do tempo de amizade das duas, o afeto delas e até os desentendimentos. Neste sentido, também há o fato das duas atrizes conseguirem suavizar alguns momentos artificiais do roteiro – como na sequência na qual Barbara convence Taila a realizar o intercâmbio –, deixando as situações um tanto mais críveis.

Neste contexto, pode-se perceber uma distinção qualitativa das premissas de Barbara e Taila. O da primeira começa meio insosso, com um relacionamento repentino e sem grandes construções, com o gringo Brad (David Sherod) e uma ingenuidade intensa de Bárbara, que chega a irritar em certas sequências, por não demonstrar nenhum tipo de complexidade, se revelando uma personagem um tanto plana até meados da projeção. Aos poucos, ela vai ganhando contornos um pouco mais perceptíveis e trazendo uma personalidade forte, impressa através das decisões difíceis que precisa tomar.

Diários de Intercâmbio

Já Talita é o oposto. A sua trajetória em Diários de Intercâmbio começa divertida e ela apresenta traços duais, como no seu conflito interno entre odiar os imperialistas e fazer uma viagem justamente para os Estados Unidos. No entanto, o seu plot passa a ficar absurdo quando ela chega em solo internacional e descobre que ao invés de ser babá de uma criança, ela vai substituir a presença da filha desaparecida de um casal, que são puro suco de White trash* e ainda por cima desejam adotá-la. A partir da metade do segundo ato, esta relação dos três começa a extrapolar os limites de veracidade e tudo isso chega a um nível nonsense demasiado, que destoa com a narrativa paralela de Barbara.

No entanto, há algo válido no resultado geral do longa: ele consegue amarrar todas as peripécias e desenlaces propostos. Mesmo que algumas decisões soem forçadas – como a descoberta da paternidade de Brad –, as pontas não ficam soltas, o que faz com que, diante de todos os clichês e previsibilidades, o consumo da obra seja, de alguma forma, agradável, no final das contas.

Por isso, Diários de Intercâmbio, em todo seu tom genérico e uma miscelânea de produtoras envolvidas – é da Netflix, com coprodução da Warner, distribuição também da Downtown Filmes e por aí vai –, não é de todo mal. Com momentos divertidos, ele pode ser uma boa pedida para um sábado à tarde, talvez. A ausência de pretensão, de não querer ser mais do que poderia, é uma questão vantajosa, pois ele entrega o esperado, barrando possíveis decepções.

Direção: Bruno Garotti

Elenco: Larissa Manoela, Thati Lopes, Emanuelle Araújo

*White trash: numa tradução livre, “lixo branco”, atualmente o termo vem para falar daqueles típicos estadunidenses que possuem armas, empalham animaizinhos e comem comidas altamente processadas. O termo vem do século XIX, para nomear agricultores escravagistas, principalmente do sul do pais.

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