Luca

Crítica: Luca (Disney+)

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Existe uma máxima entre os cinéfilos que é a de que todo filme Disney/Pixar vai fazer o público chorar. Aqui, não seria diferente. Com uma história singela, mas que apresenta uma progressão cuidadosa, o filme toca o coração ao contar a história de Luca, um jovem que é, na verdade, uma criatura do fundo mar. Quando ele conhece um menino chamado Alberto, que assim como ele também não é humano, a aventura começa. Existe aqui um desenvolvimento lento,  no qual a amizade da dupla e a contextualização sobre a vida e os sentimentos do protagonista são postos em cena.

Devido a este fator, pode-se ficar uma impressão de que o primeiro ato do longa-metragem é um pouco arrastado e dilatado. Ele demora para engatar e a meia hora inicial se torna cansativa. No entanto, este fator não compromete a totalidade da obra, justamente porque através desta estratégia que todo sentimento de empatia e conexão com a narrativa são alcançados. Esta é uma produção sobre liberdade, amizade e a aceitação. Quando se olha para o princípio do enredo é notável a habilidade em pontuar os receios e as forças de cada personagem e como é isto que vai impulsionar a trama até o seu desfecho.

A construção destas figuras é bem elaborada, no sentido de que a personalidade de cada um é explorada, ainda que em menor ou maior grau. De certa maneira, se diminui a distância entre quem assiste com o longa, colocando traços como insegurança e inadequação social nas personagens, por exemplo. Além disso, existe uma vontade de colocar a inclusão social em pauta. Este intento não é completamente atingido, visto que não é convocada uma quantidade relevante de minorias sociais, mas é perceptível a busca por transmitir o discurso de quebra de preconceitos, a partir de suas metáforas e de seu universo de fantasia.

Luca

A elaboração da união entre Luca, Alberto e a nova parceira de diversão Giulia também fomenta o que está sendo contado. O amadurecimento e a superação das adversidades estão todas ligadas diretamente ao potencial do trio de se entender e se ajudar. É com este trabalho de criação de personagem que a Disney/Pixar emociona o espectador novamente. Ao se sentir tão próximo daquela realidade e encontrar identificações – seja na memória da infância e/ou no relacionamento dos pais com os filhos, para os adultos ou na atualidade, no que está sendo vivido, no presente, para as crianças –, as lágrimas chegam e a animação acalenta o coração. Não há aqui algo novo ou bem diferente sendo apresentado. O conteúdo é simples e segue uma dinâmica bem comum, na qual os acontecimentos são esperados, porém o como é feito é o seu grande ganho.

Nesta lógica, há, contudo, um incômodo. Luca se passa na Itália e, nitidamente, a equipe sentiu a necessidade de colocar diversos clichês sobre o país, como o consumo intenso de macarrão e frases soltas em italiano. Este não é um traço tão terrível ao ponto de estragar a fruição. A utilização de tipos e personificações estereotipadas estão, costumeiramente, em animações. No entanto, em alguns momentos é enfadonho escutar expressões como “Santa Mozzarella” ou “Mamma Mia”. Até porque, Enrico Casarosa, diretor e um dos roteiristas do filme, é de Gênova. Logo, é curioso observar a presença destes chavões, pois Casarosa, talvez, pudesse trazer um olhar menos distanciado para as características de seu país. Ainda assim, esta é uma sessão que vale por ser calorosa, fofa e bem intencionada.

Direção: Enrico Casarosa

Elenco: Jacob Tremblay, Maya Rudolph, Emma Berman

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