Loucos por Justiça

Crítica: Loucos por Justiça

3.5

Em um curto espaço de tempo, o ator dinamarquês Mads Mikkelsen dá provas de sua versatilidade ao público (como se nessa “altura do campeonato” precisasse de tanto). Após a excelente carreira do drama Druk: Mais uma Rodada, vencedor do Oscar 2021 de melhor filme internacional dirigido por Thomas Vinterberg, no qual o ator interpretava um introspectivo professor em busca de algum sentido para sua vida, Mikkelsen vive um ex-militar com tendências violentas que procura reparação para a morte brutal da sua esposa em uma explosão de um trem atribuída a um grupo de criminosos. O trabalho do ator em questão é Loucos por Justiça, conduzido por Ander Thomas Jensen, realizador que já venceu um Oscar na categoria curta-metragem e que é parceiro habitual como roteirista da diretora Susanne Bier (em Em um Mundo Melhor Depois do Casamento, especificamente).

Jensen dirige um filme de ação que se sustenta na protocolar trama do homem em busca de vingança após um ato extremamente violento ser cometido contra sua esposa, trazendo para a figura de Mads Mikkelsen todo aquele arquétipo de uma masculinidade que usualmente é construído no gênero, uma jornada e um tipo de personagem que costuma satisfazer o imaginário de um público bem demarcado, homens heterossexuais brancos. Acontece que logo depois que apresenta suas “cartas” para o público, Loucos por Justiça prova ter outras ambições.

Markus, personagem de Mikkelsen, não é romanticamente alçado ao posto de herói. Sua jornada de vingança destaca aspectos controversos e capazes de repelir o espectador, como sua inabilidade para estabelecer qualquer aproximação com a única filha e sua violência desmedida. Aos poucos, mais do que uma trama de vingança, Loucos por Justiça elabora para o espectador a maneira como seus personagens lidam com o luto e como, em diferentes níveis, todos estão propensos a entrar em um redemoinho ensimesmado de culpabilizações.

Jensen tem ótimos atores em cena. Não apenas Mads Mikkelsen entrega muito para o seu contido militar que explode no terceiro ato do longa em cenas cortantes, como também Nikolaj Lie Kaas, que interpreta o hacker que entrega ao protagonista todas as informações do grupo criminoso a ser exterminado. Loucos por Justiça engana pela reiteração de alguns caminhos narrativos facilmente identificáveis pelo espectador para logo em seguida surpreender o espectador com a profundidade e sensibilidade no tratamento dos seus temas e a roupagem sóbria e tendente à introspecção.

Direção: Anders Thomas Jensen

Elenco: Mads Mikkelsen, Nikolaj Lie Kaas, Lars Brygmann, Nicolas Bro

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