Crítica: Depois do Casamento

Será que podemos ou devemos ser eternamente punidos por decisões não tão inteligentes ou erradas que tomamos no passado? Com esse questionamento em mente, o roteiro de Depois do Casamento começa a se desdobrar com a história de Isabel (Michelle Williams, Manchester à Beira-Mar) a diretora de um orfanato na Índia que precisa viajar para Nova York e conhecer um potencial investidor que doará uma grande quantia de dinheiro para sua caridade. Um pouco a contragosto de sair daquele ambiente que considera lar, ela vai até a Big Apple e se encontra com Theresa (Julianne Moore, Para Sempre Alice), uma mulher agitada e focada em dinheiro, completamente o oposto de sua personalidade.

O filme causa certa ansiedade no começo, quando o espectador começa a sentir uma tensão no ar com a chegada de Isabel em Nova York e o repentino convite feito por Theresa para que ela participe do casamento de sua filha mais velha. Mas isso não se propaga pelo restante do longa. Anida que tenha uma narrativa interessante, o ritmo é o maior problema de Depois do Casamento. A história vai e vem no sentido de ápice, sem permitir que o espectador “curta” plenamente as emoções que são propostas em cena.

A ideia da dualidade de mulheres com personalidades completamente opostas se vinculando por um bem comum me soa muito previsível, do ponto de vista de arco narrativo. Isabel é calma, focada em energias, caridosa e desapegada dos bens materiais. Já Theresa é consumista, agitada, poderosa, mandona e muito rica. Tem uma forte relação com dinheiro. que é exaustivamente exposta no longa. Falta, talvez, sutileza nas tentativas de criar um drama mais pesado, especialmente com a analogia do ninho.

O pico do filme, como se poderia esperar, são as atuações. Não há um momento em que Julianne e Michelle apareçam em que não estejam maravilhosamente bem. Elas encarnam as personagens como ninguém e nos envolvem em cada tomada de cena. Não há como não se vincular à personagem de Moore chorando desesperadamente no chão. Enquanto isso, Williams é uma completa confusão controlada de emoções. Para além delas, o ótimo Billy Crudup (Spotlight – Segredos Revelados) no papel do marido de Theresa e elo inicial que vincula as duas protagonista e a a novata Abby Quinn (série Black Mirror) que personificou um jovem adulta afetuosa e desesperada com a enxurrada de informações que vai adquirindo com a chegada de uma estranha.

O plot twist da trama, se é que podemos chamar desta forma, é deveras previsível. Sentimos desde o começo que há um objetivo por trás das ações dos personagens e soa desencorajador quando descobrimos a real motivação. Além disso, alguns fios vão ficando soltos ao longo da história. O que não leva a prejudicar 100% a narrativa, mas mostram a perda de potencial do projeto. O diretor Bart Freundlich (série Californication), que é marido de Julianne Moore, tem até uma boa intenção e um elenco fantástico na mão, mas a execução final deixa um pouco a desejar.

Direção: Bart Freundlich
Elenco: Michelle Williams, Julianne Moore, Billy Crudup, Abby Quinn

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