Chegou aos cinemas nacionais esta semana o longa Downton Abbey – O Filme, uma sequência da história criada pelo seriado de televisão homônimo, que chegou ao fim em 2015. Embora o estilo de público da série não seja do tipo que acompanha a posteridade e torce para uma reunion, o longa acabou tendo um grande alvoroço e gerou expectativa. Talvez porque Downton Abbey tenha sido uma das séries históricas mais bem sucedidas de todos os tempos, com diversos troféus e premiações importantes.
Para dar um contexto, a série conta a história de uma família aristocrática inglesa, os Crawley, e seus criados, no início do século XX, a partir de 1912. Com receio de perder o título nobre, já que só tem filha mulher, o patriarca resolve investir na ideia de casar as moças e conseguir garantir o seu legado. Enquanto isso, os empregados da casa, que são em maior número do que a própria família, fazem com que a residência, que mais parece um castelo, funcione plenamente.
Parece uma história simplória, se não fosse o fato de que o roteirista e criador Julian Fellowes (A Jovem Rainha Vitória) dá diversos tons sociais ao debate travado. O que foi dito anteriormente é apenas um pano em branco para tecer diversas narrativas, como a luta de classes, ascensão da mulher no mercado de trabalho, machismo, preconceitos, supremacia e etc. De uma maneira sutil – porém nem tanto – ele vai esmiuçando cada temática de maneira cuidadosa e empenhada. Além disso, a série foi efetivamente gravada na casa que é dita como Downton Abbey, com pouco uso de estúdio. O figurino foi tão elogiado que rendeu prêmios.
Mas e o filme? Bom, tendo em mente todo esse cenário de criação da história e levando em consideração que ela foi bem finalizada ao fim da série, qual seria o benefício de um longa que funciona como uma continuação? Downton Abbey – O Filme é como os especiais de Natal que tinham ao final de todas as temporadas (um episódio mais longo e de finalização do conteúdo). Particularmente, eram os meus favoritos. Dito isso, sim, eu adorei o filme.
É delicioso poder adentrar novamente na narrativa bem construída de Downton Abbey. Os diálogos bem afiados, o figurino impecável, o cenário perfeito. Tudo está de volta, como se nenhuma peça tivesse sido tirada do lugar desde a última gravação, em 2015. O cuidado com a continuidade é admirável, principalmente do ponto de vista técnico.
Outro detalhe muito importante é que eles conseguiram reunir todo o elenco novamente. Uma das grandes dificuldades em transformar uma série em filme é a rejeição de alguns artistas em participar deste novo modelo. Veja o caso de Friends, onde as meninas do grupo querem um revival e os rapazes são sempre relutantes. Neste caso específico, se um ou outro ator não topasse, talvez não mudasse tanto a história. Mas definitivamente faria falta. Então é maravilhoso quando vemos todos ali, desde os mais coadjuvantes até os principais.
Se reunir o elenco original é um dos pontos mais altos, o outro definitivamente é a inserção de novos personagens. Aliás, de uma específica. A atriz Imelda Staunton (Harry Potter e a Ordem da Fênix) entra como a prima distante da personagem de Maggie Smith (franquia Harry Potter). Maud Bagshaw é ácida e não poupa termos para falar o que pensa para Violet Crawley. Essa, por sua vez, já é conhecida pela língua afiada e senso crítico desmedido. Juntas, elas protagonizam as melhores cenas do longa, com picos de atuação e emoção. É sensacional de se ver.
Então não há defeito em Downton Abbey – O Filme? Claro que há. A própria proposta do filme é um pouco vaga demais. A motivação para o alvoroço na casa é a chegada repentina do Rei, que funciona até certo ponto, mas acaba se estendendo por tempo demais. Pode soar um pouco superficial em alguns momentos. Nada disso, no entanto, tira o brilho deste retorno triunfal.
Downton Abbey – O Filme é um longa feito para os poucos, porém fieis, fãs da série, que almejam entrar mais uma vez neste universo da aristocracia britânica e se deliciar com um bom roteiro, excelentes atuações e cenário incrível. Quem for assistir desavisado vai perder grande parte do contexto de todas as informações e até das muitas piadas que acontecem. É um filme para os fãs, definitivamente. E esses ficarão imensamente felizes com o resultado.
Direção: Michael Engler
Elenco: Michelle Dockery, Hugh Bonneville, Maggie Smith, Imelda Staunton, Jim Carter, Elizabeth McGovern, Laura Carmichael, Allen Leech, Tuppence Middleton, David Haig, Geraldine James, Simon Jones, Kate Phillips, Stephen, Campbell-Moore, Matthew Goode, Kevin Doyle, Joanne Froggatt, Rob James-Collier
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