Crítica: Dor e Glória

O novo filme do diretor Pedro Almodóvar, Dor e Glória, estreia nesta quinta-feira, 13 de junho, e é um retrato da vida do melancólico do cineasta Salvador Mallo (Antonio Banderas). Por conta de um episódio trágico em sua vida, ele acaba revisitando momentos que determinaram seu presente e o moldaram na maneira de ser.

Almodóvar sinalizou durante a produção do roteiro, que ele refletia muito a sua história e coisas que teria vivido no passado. O diretor fala sobre a homossexualidade, descoberta do amor precoce e o maduro, definição de propósito de vida, crises existenciais. Tudo isso pincelado com muita naturalidade em um roteiro que flui tão fácil quanto a própria vida cotidiana.

E esse é o ponto mais alto do longa. O perfil autobiográfico nos oferece elementos fortes das escolhas que levaram o diretor a ser quem é na atualidade. Ele aprofunda com muito cuidado a relação estreita com a mãe, Jacinta, vivida por Penélope Cruz, que desde a sua infância batalhou para que tivesse as melhores oportunidades possíveis. Esse relacionamento, inclusive, é o que determina momentos profundos de reflexão ao protagonista.

Além disso, temos a relação de Salvador com ele mesmo. E essa é a relação mais interessante da trama. A maneira como ele reage aos diversos elementos que são inseridos em sua narrativa e como isso molda a sua personalidade. São muitos detalhes que vão tecendo essa trama madura de Almodóvar.

A partir deste pontos, a trama vai se desdobrando na relação carnal e afetiva do protagonista. Ele mostra a homossexualidade com cuidado e como ela teria surgido. A descoberta da criança e o primeiro interesse que Salvador teria tido. Ainda assim, não se priva de ser honesto com a exposição da relação homossexual, sem oferecer rodeios.

Almodóvar pincela as cenas com memórias afetivas de seu passado. Cheiros, sabores, imagens e nuances. A lembranças que vão surgindo para o personagem, mesmo que de forma não-linear, é o que vai definindo o tom da trama. Associado a isso, uma produção visual que combina com a variações emocionais da personagem. Cores vivas do presente e do passado, em contraposição ao obscuro afetivo. É um trabalho cuidadoso não apenas na narrativa.

A medida que as camadas vão sendo expostas, as inquietações do protagonistas vão sendo sanadas e colocadas de uma nova perspectiva. O filme tem o cuidado real de trazer veracidade psicológica à evolução do personagem, o que torna ele ainda mais meticuloso no seu roteiro.

A força motriz por trás de tudo isso é a relação com a arte. A arte que inquieta o protagonista e o compele a sair de sua zona de conforto, imposta pela situação de saúde em que se encontra. Esse é o mote principal do roteiro. Ele faz com que a produção artística seja o maior motivador e transformador de Salvador.

Na atuação, Antonio Banderas definitivamente nos presenteia com uma das melhores atuações de sua carreira, o que rendeu o Prêmio de Interpretação Masculina no Festival de Cinema de Cannes deste ano. Penélope Cruz também está excelente no papel da mãe do protagonista.

Por fim, Almodóvar deixa em aberto o que seria ficção e o que seria realidade neste longa. Dor e Glória é uma obra contundente e forte, que leva o espectador a experienciar a trajetória realista, sofrida e, ao mesmo tempo, colorida de seu protagonista. Uma verdadeira conversa entre a dor e a glória, como a leitura de um diário íntimo de alguém. Certamente um filme que vale a pena a sua atenção.

Direção: Pedro Almodóvar
Elenco: Antonio Banderas, Asier Etxeandia, Leonardo Sbaraglia, Penélope Cruz, Julieta Serrano, Nora Navas

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