Em sua abertura, Dia do Sim mostra um resumo da vida da protagonista, Allison Torres (Jennifer Garner, Com Amor, Simon). Aventureira e alegre, a sua dinâmica se modifica quando ela passa a ser mãe. É complicado demais avaliar um filme como este que, destinado ao público infantil, prega a imagem de mulher controladora, que abandona a carreira profissional e perde a sua personalidade para criar seus filhos. Obviamente, as decisões femininas podem ser amplas, as que elas quiserem, até deixar o trabalho de lado. O que incomoda aqui, desde o início da projeção, é este retrato machista, impregnado por uma visão estereotipada e determinista das mulheres.
Após este estabelecimento de marcas de transformações de Allison, o longa tenta, durante toda a projeção, ressignificar o olhar em relação à personagem. Com uma premissa voltada para a liberação de todas as vontades das crianças por um dia, Allison revela que continua guardando dentro de si um espírito aventureiro. Em partes, o discurso sobre os papéis dos pais em uma família acaba suavizando o contexto do plot inicial, no qual a figura paterna é o ponto de alívio dentro e a materna é a que aprisiona e manipula todos. Mesmo assim, caso estas performances de gênero sejam ignoradas, por um público um pouco mais conservador ou alheio, a produção ainda falha em entregar um resultado positivo.
Dentro da trama, as ações são todas esperadas. Em sua obviedade, a obra não parece desejar ser muito além do que uma comédia leve e divertida. No entanto, o erro pode ser apontado justamente porque ela acaba sendo entediante. Entregando soluções fáceis para os conflitos, como a aparição de uma personagem aleatória para sugerir para Allison e seu marido façam o “Dia do Sim”, é cansativo acompanhar a sessão, possuindo a certeza de qual será o seu encaminhamento cena por cena. O espectador já encontrou algo semelhante no cinema, seja nas diversas versões de Freaky Friday (1976, 2003, 2018) ou em Os Seus, os Meus, os Nossos (1968), Mamma Mia! (2008), Uma Mãe em Apuros (2009), Fala Sério, Mãe! (2017), Dumplin’ (2018), entre tantos outros.
A ideia de explorar a relação das mães com seus filhos, que parte do afastamento e irritabilidade das crianças – ou adolescentes –, até a redenção e restabelecimento da conexão entre eles é recorrentemente visto. O modo como isto vai ser contado é que pode trazer um resultado positivo. Para tal reaproximação ocorrer também é preciso que exista um desenvolvimento das personagens dentro do enredo e algum tipo de progressão nisto. O que acontece aqui são instalações repentinas, mal trabalhadas, porque entre as atividades lúdicas deste dia livre de “nãos” e os problemas vivenciados por estes parentes, há pouco espaço para que seja colocado algum desenvolvimento destes relacionamentos.
Neste tipo de conteúdo, ainda existem as piadas, mas estas chegam sem eficácia. A razão é que o roteiro passa uma sensação de que quem assiste já possui um conhecimento prévio sobre as situações e atividades pregressas das personagens. Em alguns momentos, o filme soa até como uma continuação. Assim, as gags perdem a graça, porque não houve uma ambientação para que tal efeito fosse alcançado. No geral, o Dia do Sim se esforça para ser cômico e sem muitas pretensões. Através de uma dinâmica corrida, não consegue engajar o consumidor e ainda possui um discurso um tanto ultrapassado.
Direção: Miguel Arteta
Elenco: Jennifer Garner, Edgar Ramírez, Jenna Ortega, Nat Faxon, June Diane Raphael
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