Crescendo Juntas

Crítica: Crescendo Juntas

3.5

Narrativas sobre ritos de passagem existem aos montes na história recente do cinema, mas ainda são poucas aquelas que dedicam esse tipo de conto a protagonistas femininas e abordagens mais leves, conseguindo conciliar uma ótica humana para o assunto, mas divertida. Crescendo Juntas preenche esses requisitos e revela-se como uma história que pode ser apreciada por pais e filhas, contemplando todos os dilemas possíveis que surgem na pré-adolescência de uma garota.

O longa dirigido e roteirizado por Kelly Fremon Craig a partir do livro de Judy Blume conta a história de uma menina de 11 anos que se muda com os pais de Nova York passando a morar no subúrbio de Nova Jersey, bem longe da avó judia. É nesse momento que Margaret passa por um processo de adaptação, mas adequar-se à nova escola e aos novos colegas passa a ser o menor dos seus problemas diante das diversas questões que lhe surgem como desafios.

Crescendo Juntas aborda temas como o primeiro sutiã, os primeiros amores, menstruação e intolerância através da trajetória de uma protagonista construída com sensibilidade e doçura por Kelly Fremon Craig. O mérito do trabalho da cineasta é jamais subestimar os dilemas da sua personagem principal, ainda que trate todas essas questões com aquela ótica ingênua da infância.

A menina Margaret está sempre se dirigindo a um Deus que nunca fez parte da sua vida, já que seus pais (um judeu e uma católica) decidiram que a filha só optaria por uma religião quando fosse adulta em virtude dos conflitos severos que o assunto legou ao núcleo familiar. A cineasta utiliza esse recurso não como uma muleta para construir uma narrativa religiosa, mas como um mecanismo bem humorado e que reforça a inocência da protagonista, ampliando ainda mais nossa compreensão sobre o estado de ebulição de emoções de Margaret. A garota vive um momento tão limítrofe que recorre a uma intervenção divina nunca antes aventada.

Crescendo Juntas

Além do círculo de transformação enfrentado pela personagem principal, o longa aborda as mudanças vivenciadas pela mãe da protagonista na medida em que esta toma contato com o processo da própria filha. A personagem em questão é interpretada com sensibilidade por Rachel McAdams. Como a filha Margaret, a mãe interpretada por McAdams encontra um ponto de independência e se desvencilha de ideias socialmente impostas sobre “mães de família” na década de 1970.

É claro que, além de McAdams, outros atores têm momentos muito bons na história como Kathy Bates, cuja avó judia cheia de vida (e roupas e joias exuberantes) enche o filme de alegria e ironia quando surge na tela, ou Benny Safdie, intérprete do pai carinhoso de Margaret, mas o elenco infantil do longa é quem tem grande destaque. O filme é encabeçado por Abby Ryder Fortson, uma jovem atriz que dá cadência e personalidade a todos os dilemas de Margaret, passando ainda pelo grupo de amigas da protagonista liderado Nancy Wheeler, interpretada de maneira extremamente inteligente por Elle Wheeler. Wheeler dá vida a uma garota insegura, mas com espírito de liderança e lealdade.

Kelly Fremon Craig fez de Crescendo Juntas um filme leve e sensível sobre uma fase complicada da vida de qualquer pessoa, procurando universalidade e empatia no tratamento dessa história, mas evitando qualquer tipo de estereotipia na construção das suas personagens. É um longa perfeitamente recomendável para adultos e pré-adolescentes que certamente encontrarão pontos de entendimentos para dilemas que são recorrentes nessa fase de transição para a a vida adulta.

Direção: Kelly Fremon Craig

Elenco: Rachel McAdams, Kathy Bates, Benny Safdie, Abby Ryder Fortson, Elle GrahamJecobi, SwainKaren Aruj

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